Mais que os gritos angustiantes daqueles que experimentam o dissabor de um cárcere, bem mais que a solidão que se impõe aos que experimentam esse triste destino, fica na memória o barulho metálico, gélido, frio, das trancas que se fecham, das dobradiças que vão e vêm no bater das portas.
Anos a fio, o mesmo som, a mesma cantilena de uma nota só, o estridente ranger do vai e vem do aço sobre o aço, sem vida, sem dó. A desesperança de quem está ali, ouvindo o constante bater das portas, monocórdico, insano, como a ditar um cruel e fatídico mantra: MAS MORRA! MAS MORRA! MAS MORRA!
O ar fétido, irrespirável, impregnado com o cheiro da morte, já não é percebido.
O chão frio, imundo, gasto pelo repetido e mecânico andar, sem rumo, sem destino, de pés sem direção, sem sentido.
As paredes pintadas de medo, rabiscadas com sangue, trazem mensagens enigmáticas de dor, anseio e solidão.
A loucura grassa, o medo domina cada canto, cada fresta das funestas cloacas sociais, onde a esperança é a primeira a morrer.
Se há inferno, o inferno é ali, nas cadeias, nos presídios onde a massa humana se comprime, se deprime, se aliena e se corrompe, afundando nos intestinos da sociedade silente.
E uma vez mais me vem à mente, o repetitivo mantra da miséria humana, em sua mais cruel versão: MAS MORRA! MAS MORRA! MAS MORRA!
Não há luz na escuridão tenebrosa da indiferença humana.
Flavio Perdigão
Nenhum comentário:
Postar um comentário