quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Carnaval

Carnaval. A cada ano mais violento. Gosto dessa parada do carnaval. Não que eu faça retiro, nada disso. Acho muito legal o povão brincando, se divertindo numa boa. Mas não dá pra aceitar tanta bebedeira, irresponsabilidade, violência, sujeira, barbaridades, acidentes de trânsito fatais, TV fazendo propaganda de cerveja e sexo a todo instante, bandidos infiltrados em escolas de samba, carro e jet-sky atropelando banhista. Isso deveria ser repensado, logo. Já mediram o custo social desta festa do jeito que ela é hoje? Quanto o sistema de saúde pública do país gasta com as sequelas provindas do carnaval?  Se fizéssemos as contas, provavelmente o resultado não seria nada bom.
Carnaval, a quem serve o carnaval? Ao povo? Desconfio que não.
George Alberto de Aguiar Coelho

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Grito

Acho que o magnífico quadro "O Grito" de Munch, que ora vai a leilão, pode também retratar o suplício de um dos muitos indivíduos que fogem vitimados por esses paredões de barulho sem nexo, portadores de um ritmo semelhante, talvez pior, que os bate estacas, paredões arrastados, sobretudo no carnaval, por potentes veículos dirigidos por sujeitos que parecem não suportar o som ritmado das águas do mar, nem um bom violão, nem uma boa conversa, nem mesmo o ensurdecedor silencio que se lhes o cercam.
George Alberto de Aguiar Coelho

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,o-grito-de-munch-vai-a-leilao-obra-pode-superar-us80-milhoes,838731,0.htm

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

No tempo do jejum

Foi uma das experiências interessantes que tive na minha vida, jejuar. Não era por opção religiosa, mítica, nada disso. Queria emagrecer e pronto. Li um livro que defendia a ideia apontando os benefícios que a restrição de comida, por meio do jejum, causaria. Durante uns 6 meses, jejuei regularmente, às vezes por 24 horas, outras por 36, chegando até a 48 horas, a abstenção. 

O meu raciocínio pra defender o jejum ia além do livro. Se o homem moderno não tem saúde, uma das razões é a comilança desenfreada. Segundo a teoria da evolução das espécies de Wallace e Darwin, os seres evoluem, mas muito lentamente. A coisa deve se processar na casa dos milhões de anos. De tal sorte, que o homem, ou a mulher, pra não discriminar o sexo, de hoje é o mesmo de 200, de 20.000 anos atrás. Porém seu estilo de vida mudou abruptamente. O ser que tinha de caçar, trepar em árvores, colher nozes e frutas, buscar diariamente o alimento, flechando animais, sob pena de sucumbir, passando dias sem conseguí-lo, pois bem, hoje tem carro, super-mercado na porta, geladeira e fogão à sua serventia. Não precisa praticamente gastar calorias pra comer, e come a toda hora. 

De tal sorte que a mesma máquina, que vivia em regime frugal de quase constante abstinência, está submetida hoje a um turbilhão de substâncias que o estômago tem de digerir rapidamente, pra que mais substâncias lhe empanturrem o bucho. Assim, não me causa surpresa o resultado da pesquisa do link abaixo, sobre os benefícios do jejum, mesmo não podendo avaliá-la cientificamente, que isso é da competência de profissionais da saúde e não minha.Tem de se alertar também que um homem de 40 anos, nos antigamentes da vida, devia de ser uma raridade. As doenças o levavam pra cova bem cedo. Não havia vacinas, antibióticos etc.

Sim, mas e o resultado dos meus jejuns que tâ chegando a quarta feira de cinzas, época de jejuar? Respondo. As primeiras horas do jejum, incomodavam um pouco. Não sentia dores de cabeça, pois fazia uma exceção à xícaras de café sem açúcar. Até corria em jejum, o que, dizem os profissionais, ser altamente desaconselhável fazê-lo. Pode dar uma pilora, minha mãe preocupadíssima, em vão, me alertava. Quando o jejum se prolongava por 24 horas ou mais, a fome deixava de existir e eu chegava a sentir um suor frio pelo corpo. Serenava. Se Jesus jejuou por 40 dias, por que não aguentaria uns poucos 3 dias?


Dizem que o peso que perdia nessas ocasiões provinha mais dos músculos, do tutano (medula) dos ossos, colágeno e menos da gordura, que eu ainda tenho, e muita. Sei não. Isso é muito complicado pra mim. Mas acho que a ciência devia estudar melhor o jejum e deixar de lado ideias pré-concebidas, bem como interesses do negócio dos alimentos, ou como diz um amigo Célio, o negócio da comida. É querer demais. Né não?


George Alberto de Aguiar Coelho

Capitalismo das Coronárias

O agro-negócio fatura horrores com o aumento da produção de soja, milho etc. à custa de desmatamento e extinção da bio-diversidade, comprometida com a disseminação de espécies transgênicas estéreis de uma ou duas companhias monopolizadoras de sementes. 
Os processadores de comida enchem os bolsos com a adição, aos alimentos, de toneladas de produtos químicos que viciam e danificam as artérias do comilão. 
Cientistas ganham à vida descobrindo a mistura melhor de açúcar, sal e outras gororobas mágicas que deixam na última garfada a sensação de se querer mais e mais. 
Publicitários e redes midiáticas fazem fortuna dando imagem boa a produtos da pior qualidade para a saúde do cristão. 
E o sistema de saúde, suportado por todos nós, paga desmesuradamente pra amenizar, porque não se curam, as doenças provocadas pelo capitalismo coronário. 
George Alberto de Aguiar Coelho

Fontes:
http://www.project-syndicate.org/commentary/rogoff89/English
http://www.cartacapital.com.br/economia/o-cidadao-e-o-ambiente/?autor=13

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O futebol de Videla

Aquele jogo não me sai da memória. No mesmo dia, umas poucas horas antes, o Brasil vencera a Polonia por 3 a 1. A Argentina jogaria a seguir pela classificação. Teria de vencer o Peru com 4 gols de diferença. E ganhou por 6 a 0. Brasil eliminado, o final da copa de 1978 foi disputado entre Argentina e Holanda. Hermanos venceram bem, na prorrogação. Ainda no aeroporto, quando da volta do escrete brasileiro, Claudio Coutinho, treinador do Brasil, cunhou  a expressão: Fomos os campeões morais. E fomos mesmo. Pelo menos ficou essa aparência que mais se acentua com as notícias da reportagem do link abaixo.


Em resumo, diz o jornal português a partir de depoimento do então perseguido político peruano, o ex-senador Genaro Izquieta, teria havido uma negociação do resultado do jogo, pra levar a Argentina à final com a Holanda. O resultado favorável à Argentina foi assegurado por trigo e mais 13 prisioneiros peruanos opositores do regime, dentre os quais Izquieta, enviados à Argentina pelo Peru, ambos parceiros na Operação Condor. Quando na prisão, Izquieta, foi ainda testemunha do metralhamento de argentinos pela ditadura Videla. Os 13 presos peruanos só escaparam da morte por ter havido forte pressão internacional, motivada pela divulgação de uma foto tirada quando do desembarque do grupo na Argentina.


Quanto à negociação mencionada, o primeiro bem de troca, trigo, serviria para consumo humano. Os segundos, para devoragem dos peixes, pois os 13 insurgentes peruanos seriam arremessados ao mar em chutes de coturnos que a ditadura agonizante de Jorge Raphael Videla (1976-1981) muito bem dominava.


George Alberto de Aguiar Coelho

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Morre Dona Mocinha, irmã de Lampião

Lendo a notícia, me lembrei de Dona Mocinha. Assim como a irmã de Lampião, a gente do Crateús e pé-de-serra, das quebradas da Ibiapaba, chamava de Dona Mocinha, minha avó por parte de mãe. O nome pregou nela, no lugar de Maria Elias de França Aguiar

Nordestino dá significado aos nomes de pessoas, lugares e coisas. Isso vem do costume índio que corre nos couros da gente daqui. A alcunha de Lampião, por exemplo, pegou depois de um combate, ainda quando Virgulino Ferreira da Silva era subalterno do grupo de Sebastião Pereira (Sinhô Pereira) e Luis Padre. Se diz que na briga, o rifle de Virgulino era vê um lampião aceso, pois não parava de disparar pra riba de poliça infeliz.

E foi na Serra Talhada, antiga Vila Bela, nas ribeiras do Pajeú pernambucano, que nasceu o briguento Lampião. A mulher dele, Maria Gomes de Oliveira, ou Maria Déia, depois Maria Neném porque, antes de entrar no cangaço levada por Lampião, foi esposa de José Neném. Era chamada de Dona Maria pelo bando ou então "a mulher do capitão". Pegou fama como Maria Bonita. Já Ezequiel Ferreira da Silva ou Ezequiel Profeta dos Santos, irmão mais novo de Lampião, pela pontaria das boas que tinha, ganhou apelido de Ponto Fino. Outro chefe de bando foi Corisco que teve Dadá como companheira de desgraça.

E mais apelidos de cangaceiros sugeriam significados próprios, indicando características, habilidades e fatos vividos pelo alcunhado: Volta seca, Labareda, Zé Sereno, Ventania, Jararaca, Cobra Verde, Mergulhão, Labareda, Tiririca, Moeda, Moreno, Jurema, Asa Branca, Bem-te-vi, Beija-flor, Sabiá, Juriti, Azulão, Canjica, Candeeiro, Moita Braba, Lavandeira, Pavão, Zabelê, Zepelim, Pai Velho (por ter o cangaceiro mais de 70 anos). Os cachorros de Lampião tinham o mesmo tratamento. Eram Guaraná e Ligeiro.

A gente sabe também da lenda de corpo fechado de alguns cangaceiros. Lampião usava bem deste mito. Assim, quando sucedia dum cangaceiro padecer da morte fatídica em combate, era comum seu nome ser transplantado pra quem lhe substituísse. E se dava um jeito de esconder o morto, pra não lhe degolarem a cabeça como prova do sucedido.

Ainda da notícia do jornal abaixo a respeito da morte da irmã de Lampião, me chama a atenção a idade em que morreu: 104 anos. Já minha avó, também Dona Mocinha, faleceu em 1989, com 89 anos. Sertanejo tinha apelido simples e comia de forma frugal.

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2012/02/10/morre-dona-mocinha-irma-de-lampiao-31839.php

Fonte e foto: Lampião o rei dos cangaceiros. Billy Jaynes Chandler. Ed. Paz e Terra. RJ. 1981.


Maria Elias de França Aguiar, Dona Mocinha, minha avó, casada com o capitão Raimundo Inácio de Aguiar. Foto tirada (por Adauto Coelho ou por Manuel Elias de Aguiar)  na Fazenda Boca da Picada, situada no município de Piracuruca, no Piauí.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Ler pensamentos

Imagine se num futuro próximo um novo Steve Jobs, com o conhecimento aprimorado da ciência, invente um iThought pra traduzir o que o sujeito da frente tá pensando. Político vai ter de ficar esperto pra não pensar a famosa frase do Chico Anisio na boca do deputado: "Eu quero mais é que o povo se exploda". 

Sei não, isso vai dar muito processo judicial. Sr. Juiz eu estava conversando com ele e, tá aqui registrado no meu iThought: ele tava pensando em mim de maneira indecorosa e ... Mas, Excelência, ela não tem do que reclamar. O que diz é verdade, sim. Mas ela gostou do que eu pensei. Se lê no pensamento dela registrado nesse momento no meu iThought de última geração. E o juiz despacha: Às provas documentais e testemunhais, acrecente-se às pensamentais, depois venham-me conclusos os autos. 

Carece então que a gente mais atenda o catecismo que aprendi, sem praticar, dos tempos de menino: "Não pequeis em pensamentos, palavras e obras".

George Alberto de Aguiar Coelho