Faz-se crer que a riqueza de cada um se deve
ao trabalho que realiza. Verdade, não é.
Basta verificar, por exemplo, que dentre os mais ricos da sociedade estão banqueiros, rentistas
e especuladores. Soaria irônico afirmar que ganham conforme trabalham. No dizer popular, alguns deles dão é muito
trabalho. A última assertiva se prova com o episódio dos “primes” e a recente quebradeira na anciã Europa. Tudo causado pela ganância sem fim e a má gestão. Arrisco adivinhar quem vai
pagar a conta do banquete. A Grécia até já respondeu, antecipando-se a Portugal,
Espanha, Itália e França: o povo. O FMI já está passando a sacolinha: contribuam gente boa!
De outro lado, já que se fala em trabalho, mirem-se
na rotina de um pedreiro, suorento a levantar tijolos em paredes sólidas. Feito
Sísifo rolando sem fim medonha pedra
morro acima que teima em cair morro abaixo, que faz rolar de novo pra cima, eternamente. Se se tivesse de medir o trabalho de um indivíduo desses, seria o mais rico dos
homens; o mais admirado dos da espécie. Mas, casa de ferreiro, espeto de pau ou: quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro. De
tal sorte que, pra não rebolar no mato a frase iniciada no texto, motivo de
concordância de muitos Adam Smiths da vida, podemos reformá-la para: a riqueza de cada um se deve ao trabalho
que outros realizam a favor daquele.
Fico pensando se o trabalho realmente nos deixa felizes. Olavo
Bilac, no seu parnasianismo métrico, tinha essa opinião: “Assim como a chuva caída fecunda a terra no
estio, para fecundar a vida, o trabalho se inventou... Feliz quem pode
orgulhoso dizer nunca fui vadio e, se hoje sou venturoso, devo ao trabalho o
que sou”. Menos, poeta, menos! É que
nunca se trabalhou tanto. O mundo atual é uma azáfama geral. Contudo, nunca fomos tão infelizes. Tenho na cabeça que a depressão é uma epidemia essencialmente moderna. Se me
fosse dado opinar e ressalvadas as condições da genética de cada um, apostaria que provem muito da alimentação - rica em calorias,
pobre em nutrientes - dos valores da sociedade de consumo e do trabalho para adquirir
bens supérfluos exigidos por esta.
Do ponto de vista ecológico, o trabalho, com o seu
produto e detritos gerados, são os grandes consumidores de recursos naturais. Porém a terra é
redonda e finita. De tal forma, ser a natureza terráquea limitada. Mas não rezam assim os pressupostos da economia vigente que ordena produzir cada vez mais com recursos naturais, considerados infinitos e praticamente gratuitos. É um crescer
contínuo que o crescimento traz lucro, reproduzindo a mais valia do velho Karl Marx. Até quando dura isso? Ninguém sabe pois, dentre os valores impostos às pessoas, se sobressaem, a riqueza, o poder e a celebridade célere. Assim, urge manter-se a expectativa de
tê-los a qualquer custo. Parar de consumir o supérfluo? Não dá, pois, argumenta-se, haveria desemprego,
desarrumação geral nas estruturas de poder. O sistema quebraria, como quebrou,
por outras razões, o comunismo . Não
creio que os detentores das rédeas do poder deixem isso acontecer. Logo, consumir mais, tornou-se preciso.
Sendo assim, no sem jeito mesmo de solução, e apenas pra se ter uma outra visão do
trabalho, ou melhor, do não-trabalho, pouco custa ler “Ócio Criativo” de Domenico
de Masi. Isso, se der tempo que, a gente sabe, o trabalho não deixa sobrar.
George Alberto de Aguiar Coelho
http://noticias.bol.uol.com.br/ciencia/2012/01/27/trabalhar-demais-eleva-risco-de-depressao.jhtm
E como disse um amigo meu: "Se não é Trabalho e Depressão é Trabalho e Estresse, é osso: http://www.youtube.com/
j'ai beaucoup aimé votre texte monsieur Coelho...nos réunions hebdomadaires où nous parlions de tout et de rien en français me manquent.À bientôt peut-être ?!
ResponderExcluirvotre "professeur" et ami Eric Claude Leurquin