foi um jornalista boêmio que amava a noite, mas se qualificava como um agitador cultural.
Fui apresentado a ele por um cunhado, Marcos, seu colega no Colégio Cearense. Na ocasião, pretendíamos montar um bureau de serviços de informática, uma espécie em pequena escala do que era então a empresa cearense Secrel. Trabalhei ali com Pedro por quase um ano e, no final, separou-se a sociedade, sem que nem chegasse a ter formalmente nós dois como sócios.
Era 1985 e, ainda no pequeno bureau, fomos, eu e ele, a Brasilía, para um Congresso de Informática da Sucessu, associação de gente ligada à computação. Quando numa noite estávamos neste Congresso, ouvimos a notícia da morte de Tancredo Neves. Porém, mesmo após a infausta notícia, um propagandista de empresa de informática continuou explicando sobre o seu produto ao Pedro. Este ficou indignado e o interrompeu: meu caro morreu há pouco o presidente do Brasil e você não o está respeitando. Não quero ouvir mais nada. Era assim o Pedro.
No outro dia, ou dias depois, o caixão com Tancredo chegava à Brasília e formou-se um movimento de estudantes tentando entrar no Planalto rompendo o cerco policial. Coisa de estudante desmiolado. Pelas circunstâncias da renascente democracia, altos interesses em jogo e a personalidade ímpar de Tancredo Neves, que tinha sido primeiro ministro do governo Jango, desconfiava-se não ter tido o presidente Tancredo, ainda não empossado no cargo, morte natural. Eu, inflamado, estava ali, junto a ele, levantando a enorme bandeira dos estudantes e ele racionalmente me disse: isso é coisa de doido, você será um trotskista?
Depois à noite, fomos para o velório, antes passando por um bar no qual presenciamos uma cena que Pedro incorporou em sua memória e estórias. A cena: uma moça flagra o seu namorado bebendo com outra em uma mesa do nosso lado. Indignadíssima a bela mulher fez a desfeita ao namorado chamando-o de tudo, de hipócrita, de canalha e de falso Diretas-já. Falso Diretas-já? Porque ambos, então namorados, antes da eleição indireta de Tancredo Neves em Colégio eleitoral, tinham participado dos acontecimentos das Diretas-já e a afrontada moça descobriu depois que o agora encolhidíssimo namorado não era exatamente um democrata, mas um falso Diretas-já.
Muitos anos depois, encontrei Pedro no Centro Cultural do BNB, quando do lançamento do livro que escreveu em co-autoria com Denise Dumont em homenagem ao pai desta atriz, o criador do baião e do hino do Nordeste, Asa Branca, em parceria com Luiz Gonzaga, o iguatuense Humberto Teixeira. Guardo fotos da ocasião.
Pedro era Jornalista e escrevia textos no jornal O Povo. Os acontecimentos pareciam seguir o Pedro ou seria o contrário? O que de fato acontecia, ou me dava impressão que acontecesse, era quase sempre o de encontrar o Pedro em algum acontecimento insólito ou grandioso.
Amava a noite. Era um boêmio contumaz de discursar com todo o fervor em conversa aos goles de cerveja, defendendo suas ideias esquerdistas, marxistas, trotskistas, petistas ou mais istas que as fossem.
Nestas ocasiões pegava o microfone e soltava a voz, que era muito boa voz. Lembro-me dele assim cantando no bar Estoril da Praia de Iracema, uma música que me traz a lembrança do Pedro sempre que a ouço: O Bêbado e o Equilibrista de João Bosco & Aldir Blanco, interpretação de Elis Regina ou do Pedro Carlos Álvares.
"Caía a tarde feito um viaduto e um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos. A lua, tal qual a dona de um bordel..."
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