Se se seguisse o fluxo migratório impulsionado pelos desejos, a população brasileira diminuiria em 16 milhões de viventes. Quantos sairiam? 94 milhões de brasileiros insatisfeitos. Quantos pra cá viriam? 78 milhões de estrangeiros.
Crianças, eu vi. Uma das frases que mais me incomodavam durante os anos de chumbo era a do Brasil Ame-o ou Deixe-o. Por quê? Porque se destinava, a frase, justamente aos brasileiros que tinham preocupação e amavam o país e que, por isso, não aceitavam o estado de coisas (falta de liberdade) então instalado por cá. Destinava-se a frase aos chamados pela ditadura de subversivos (por subverterem a ordem instalada), dentre os quais os jovens era a parcela maior.
Também me incomodava o rame-rame da frase postada açodadamente nos jornais e TVs porque era simplista demais e, propositadamente creio eu, não mencionava as barreiras que se têm pra se sair de um país e entrar em outro. Querer sair, se queria, mas como fazer isto? Muitos, eu por exemplo, naquela época queriam deixar o Brasil, mas nem sabiam como, nem tinham os meios pra fazê-lo. Bolsas de estudo de trânsito internacional no Brasil? É coisa deste governo.
De tal sorte que um dos valores que mais se preza em uma cultura é a liberdade, dentre elas a liberdade de trânsito. E se liberdade de trânsito é um dos pressupostos da democracia, de fato torna-se um mito quando não se têm as condições de gozá-la. Liberdade que nenhuma ditadura e nenhum país dito democrático oferece.
Assim, liberdade não é só a de opinião, que essa hoje, com a internet, chegou a um patamar elogiável. Liberdade, pra ser liberdade, deveria dentre outras características ser a de poder transitar (entrar e sair) nos países, conforme a necessidade de cada um, inclusive a de trabalhar no país escolhido.
Se as nações democráticas professam a liberdade alfandegária de trânsito livre pra seus produtos, por que então não aceitam a liberdade de trânsito no mercado de trabalho? Isso é uma incoerência braba da chamada globalização.
O presente escrito vem a propósito de uma nova onda de restrições ao emprego nos países da Europa; a propósito dos vários muros de fronteira que não deixam transitar pra seu território cidadãos vizinhos (Estados Unidos com o México; Itália com a África; Israel com a Palestina; Entraves na emigração inglesa etc.) Nações deliberadamente enumerados aqui justamente por se acharem refúgios da liberdade.
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