No calor do pós primeiro turno eleitoral, Fernando Henrique Cardoso afirmou
que quem votou em Dilma ou era pobre ou desinformado. Sendo eu um
desses pobres e desinformados, tecerei alguns comentários sobre tal
afirmação justificando minha opção de uma forma popularmente conhecida
como ‘’matando a cobra e mostrando o pau!’’, ou seja, apontando fontes que
ajudarão a ‘’desinformar’’ os ‘’informados’’.
Inicialmente, é bom lembrar que a Ciência de Sistemas nos municia com
conceitos com os quais podemos facilmente explicar os mecanismos de
manipulação do comportamento humano, pelo direcionamento da informação
às pessoas de escasso senso crítico, o qual só se forma pela educação
libertadora e de qualidadea. Em vista disso, muitos líderes religiosos,
monarcas e políticos, desde a antiguidade, bem como todas as tendências
nazifascistas e totalitárias da história recente tem buscado formas de subtrair
ou enfraquecer a educação libertadora (tipo as propostas por Paulo Freire,
Rollo May e outros), ao mesmo tempo em que tentam monopolizar os mais
potentes e abrangentes meios de emissão do discurso manipulador.
Ao ler nos jornais ou ver nas tv’s nacionais os discursos cinicamente
malufistas - para usar um pleonasmo - do FHC e do Aécio, tão ao gosto de
parcela expressiva dos eleitores de São Paulob, sinto-me no dever de
contribuir para evidenciar o caráter demagógico daqueles discursos.
Eric Kandel, neurocientista laureado com o prêmio Nobel, certamente
concordaria comigo quando afirmo que situações de carência de alimentos
ou dificuldades financeiras que impedem a um indivíduo ter acesso aos
direitos básicos - como casa própria, mobilidade e acesso a aceitáveis
sistemas de educação e saúde - tornam-se fatores fortemente incrustados na
memória dos despossuídos. Em decorrência, não é fácil fazê-los esquecer
das agruras do passado quando prosperam e, por isto mesmo, sentem-se
socialmente incluídos e passam a rejeitar os instrumentos
(partidos/políticos/governantes) que reconhecem terem sido os responsáveis
pela sua anterior exclusão.
Isto, certamente, explica em parte porque os governos tucanos ainda são
repudiados pela maioria esmagadora dos indivíduos que vivenciaram o Brasil
dos anos 90 ao início deste século, que foram vítimas da exclusão social pura
e simples. Também, explica o apoio aos governos petistas pelos não pobres,
mas humanistas e nacionalistas, que se indignaram com o desmonte no país
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
1!O ‘’desinformado’’ Autor deste artigo é Engenheiro e Professor Titular da UFC, e considera
importante que o leitor também veja as notas referenciadas no texto e que estão explicitadas
no final do artigo. Também no final, resenho alguns livros recentes que, a meu ver, se lidos e
analisados conjuntamente, nos faz enxergar mais clara e profundamente a atual conjuntura
mundial e nacional. Porque os tenho lido, uns há algum tempo, outros mais recentemente,
me senti motivado a sair da inércia política e a contribuir para o apostolado da
conscientização, neste decisivo momento eleitoral.!
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dos instrumentos que suportam o chamado ‘’Estado de Bem-Estar’’, em um
processo de privatariac que retirou enormemente o poder do Estado brasileiro
de melhorar as condições de vida da esmagadora maioria de sua população,
via políticas públicas compensatórias.
Ao que parece, como sinalizou Aécio ao divulgar Armínio Fraga como mentor
e condutor da política econômica de seu (improvável) governo, apesar do que
tem mostrado a prática neoliberal em diversos países, Brasil de FHC incluído,
os tucanos ainda acham que ‘’austeridade monetária e desregulamentação
financeira e trabalhista no fiofó do povo trabalhador são refrescos”!
Em vista disso, além de demagógica, é certamente ingênua e pouco
pragmática a pretensão apregoada no atual discurso de Aécio, e demais
tucanos elitistas, de negar o que foi feito nos últimos 13 anos pelos governos
do PT no Brasil, mesmo que seu discurso seja corroborado por uma cotidiana
e extenuante propaganda da mídia corporativa do país, claramente
conservadora e antipetista, e que costuma omitir, mentir ou contar meias-
verdades sobre as conquistas econômicas, sociais, tecnológicas, culturais e
de afirmação da soberania nacional por que tem passado o Brasil pós 2003.
Talvez, a razão fundante do discurso demagógico tucano seja a aposta no
fato de que, por não terem vivido as décadas perdidas, os jovens brasileiros o
aceitarão sem questionar, sem pesquisar a veracidade dos fatos e sem
consultar seus entes queridos mais velhos e próximos.
Outro aspecto que quero ressaltar é o fato de que não dá, para uma pessoa
lúcida e ‘’desinformada’’, separar as inter-relações entre as conjunturas
nacionais e internacionais hodiernas. Assim sendo, o que também me
incomoda, na pouco provável perspectiva de tomada do Governo Federal
pelos tucanos nestas eleições, é o retrocesso na autoestima nacional pela
volta da supremacia dos interesses do grande capital, mundialmente
articulado e tendo o Governo dos EUA como timoneiro. Serão graves as
consequências de médio e longo prazo não só para a independência
econômica, mas também para os resultantes entraves aos potenciais de
desenvolvimento político, tecnológico, ambiental e cultural do Brasil e dos
países da América do Sul, América Central e da África, irmãos em uma longa
história de exploração predatória pelo império do Capital. Devemos lembrar
que esta tragédia, caso ocorra, significará o enfraquecimento dos BRICS e,
em consequência, do banco e do fundo alternativos ao Banco Mundial e FMI,
guardas pretorianos dos interesses estadunidenses nos países não
desenvolvidosd.
Será muita ingenuidade de alguém acreditar que, dado a magnitude dos
interesses econômicos em jogo (principalmente sobre o pre-sal, em um
período de escassez do petróleo mundial) somado ao descalabro da atual
situação econômica dos EUA pós crise de 2007-2008e, ações disfarçadas ou
encobertas dos agentes do governo estadunidense no Brasil sejam coisas só
pensadas por malucos que acreditam na Teoria da Conspiraçãof. Moniz
Bandeira (2013) e Saunders (2008) demonstram em seus livros (abaixo
resenhados) que essas ações não só são comuns, como sempre englobam
personagens e instituições-âncoras nativas.
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Por tudo o acima mencionado, e muito mais que obtenho por meu gosto por
leituras de livros esclarecedores da realidade contemporânea e escritos por
autores a quem gosto de chamar de ‘’garimpeiros da verdade’’, comunico
que, se até o dia 26 não houver alguém que ponha em prática a sugestão da
tucana fundamentalista no facebook de ‘’jogar uma bomba atômica no Norte
e Nordeste para destruir essa raça de desinformados’’, reafirmarei meu voto
com maior convicção e o digitarei na urna com a mão guiada por um coração
valente.
NOTAS
a) Quem leu alguma coisa sobre Psicologia Aplicada ou
condicionamento pavloviano (termo derivado do cientista russo Ivan Pavlov,
um dos principais pioneiros da Psicologia Experimental) sabe que, quando
demasiada e fortemente repetido, um estímulo informacional/físico/sensorial
se torna condicionante de comportamentos reativos programados pelo
emissor, principalmente se a fonte (no caso da informação) é considerada
pelo receptor como de alta credibilidade. Neste sentido, ver o livro intitulado:
A Mistificação das Massas pela Propaganda Política. Serguei Tchakhotine.
1967. Editora Civilização Brasileira. Este livro foi escrito no período entre as
duas grandes guerras mundiais e buscou desvendar os métodos criados por
Joseph Goebbels (Ministro da Comunicação de Hitler) e seu suporte em
mecanismos psicológicos que direcionavam inconscientemente o
comportamento do povo alemão na época. Deve-se observar que uma
educação libertadora e de qualidade2 despe o indivíduo de preconceitos e
torna-o tolerante com os diferentes.
b) O eleitor ‘’informado’’, segundo FHC, parece ser aquele que debate
o complexo processo político como as chamadas torcidas organizadas
discutem o desempenho relativo de seus times (vencedores ou perdedores);
eles o fazem, normalmente, de forma passional e tratando o adversário que
não se convence com agressões verbais ou, mesmo, físicas. Este tipo de
consciência politica deve explicar, em grande parte, a reeleição de Alckmin
no 1o Turno em São Paulo e as duas décadas de hegemonia tucana naquele
estado (cujos espaço psicossocial e estrutura midiática alienadora
apresentam enorme semelhança com aquelas dos EUA, certamente por ter
sido o berço da industrialização brasileira com base na implantação de
grandes corporações transnacionais daquele país, em sua fase imperial mais
aguda).
c) Ver o livro recém relançado intitulado O Brasil Privatizado – Um
Balanço do Desmonte do Estado. Aloysio Biondi. 2014.!O livro faz a análise
do processo de privataria no (des)governo FHC e, como está dito na sua
orelha: ... ``é um livro clássico da rapinagem da Era da Privataria que se lê de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
2 Concordo com a definição de liberdade definida por Rollo May, em seu livro intitulado ``O
Homem à Procura de Si Mesmo``, 1978, Editora Petrópolis Vozes Ltda. Neste livro, May
define liberdade como ``a capacidade que um indivíduo tem de contribuir para sua própria
evolução``.
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um só fôlego, assaltado por sentimentos que vão da incredulidade total à
indignação desabrida com a pilhagem do patrimônio público construído por
muitas gerações``.
d) Para uma maior compreensão dos papéis do FMI e do Banco
Mundial na hegemonia político-financeira estadunidense no Mundo, ver livros
A Doutrina do Choque – A Ascensão do Capitalismo de Desastre. Naomi
Klein. 2008; e O assassino Econômico. John Perkins. 2004; ambos estão
resenhados no fim destas notas.
e) Em desesperado esforço pela competitividade perdida para os
asiáticos nos setores de alta tecnologia, principalmente automobilística e
teleinformática, os EUA tentam retornar à condição (dos seus anos dourados)
de ‘’buraco negro’’ do capital financeiro (auxiliado pela privatização dos
grandes atores econômicos dos países periféricos – a exemplo da Petrobrás)
e humano (a imigração de cérebros de todo o Mundo para o Vale do Silício e
para as suas universidades/institutos de pesquisa está decrescente pelas
oportunidades geradas pelo recente processo de desenvolvimento de países
como o Brasil). Neste sentido, ver os livros Sequestro da América – Como as
Corporações Financeiras corromperam os EUA. Charles H. Fergunson. 2013;
e Desagregação – Por Dentro de uma Nova América . George Packer. 2013.
Ao ler estes livros, podemos antever o que nos espera se for vitoriosa a
facção entreguista, rentista e socialmente predatória da política brasileira,
hoje capitaneada pelo tucanato com o decisivo apoio da mídia corporativa
(porta voz dos rentistas de que trata Fergunson), cuja maior expressão é a
Rede Globo. Ver também livro intitulado ``História Secreta da Rede Globo``,
de Daniel Herz. 1987. Tchê! Editora Ltda. Este livro é baseado na dissertação
de mestrado do Autor na UNB e mostra a que serve a Globo, a tirar pela sua
gênese. Ver, ainda, o livro ``Afundação Roberto Marinho``. 1988. Tchê!
Editora Ltda. o qual explica como e porque a rede Globo se tornou
hegemônica no setor de Comunicação do país na época da Ditadura Militar.
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!!f)!Quanto a isto, vale a pena dar uma olhada nos livros!Os Arquivos
Snowden – A História Secreta do Homem Mais Procurado do Mundo. Luke
Harding. 2014; Sem Lugar para se Esconder: Edward Snowden, a NSA e a
Espionagem do Governo Americano. 2014. Editora Sextante; A Segunda
Guerra Fria. Luís Alberto Moniz Bandeira. 2013; Quem Pagou a Conta?!
Frances Saunders. 2008; Diário da CIA: A CIA por Dentro. Philip Agee. 1976.
Editora Civilização Brasileira; além de vários livros do Noam Chomski,
Professor Emérito do MIT, maior crítico da política externa estadunidense nas
últimas décadas e, justamente por isto, boicotado pela grande mídia daquele
país, razão porque é mais conhecido fora que dentro dos EUA. Um dos livros
que considero mais importante foi baseado em entrevistas do Chomski a dois
defensores públicos da cidade de Nova York: Peter R. Mitchell e John
Schoeffel, intitulado ‘’Para Entender o Poder – O Melhor de Noam Chomski’’.
2005. Editora Bertrand Brasil.
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REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE LEITURA
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Livro: O Sequestro da América – Como as Corporações Financeiras
Corromperam os EUA. Charles H. Fergunson. 2013. Editora Zahar.
RESENHA:
O Autor é matemático, economista e PhD em Ciência Política pelo MIT,
professor tanto deste Instituto quanto da UCLA, além de consultor em política
de tecnologia para o governo estadunidense e para empresas como a Apple,
IBM e Motorola. Com base em extensa pesquisa bibliográfica e com análise
arguta de dados históricos do processo político e econômico dos EUA, desde
a era Reagan até Obama (2012), Fergunson explicita, de forma didática, os
fatos que levaram à crise dos EUA de 2007/2008 que ainda afeta não só aos
estadunidenses, mas a toda a Economia mundial. Explica neste livro, de
forma clara e indubitável, porque hoje apenas 1% da população daquele país
detém mais de um terço da renda nacional e já apresenta mais de 50 milhões
de homeless (sem teto), o que tem catalisado a decadência daquele outrora
‘’país das oportunidades’’ e império enfraquecido, mas ainda sustentado pelo
sua força bélica e pelos interesses dos setores armamentista, energético e de
segurança, além daqueles do grande capital especulativo mundial.
Fergunson faz uma análise ímpar da ‘’financeirização’’da Economia e do
sequestro pelo setor rentista do estamento de tomada de decisão nos EUA,
atingindo principalmente o poder judiciário, pretensamente estabilizador da
correlação de forças entre os poderes Executivo e Legislativo em países de
Constituição Republicana. Ao ler este livro, podemos antever o que nos
espera se for vitoriosa a facção entreguista, rentista e socialmente predatória
da política brasileira, hoje capitaneada pelo tucanato com o decisivo apoio da
mídia corporativa (porta voz dos rentistas de que trata Fergunson), cuja maior
expressão é a Rede Globo.
Livro: A Segunda Guerra Fria. Luís Alberto Moniz Bandeira. 2013.
Editora Civilização Brasileira.
RESENHA:
Professor emérito da UNB, hoje aposentado e morando na Alemanha, Moniz
Bandeira continua o pesquisador incansável no intuito de compreender a
realidade histórica contemporânea. Neste seu mais recente livro ele disseca
as razões que motivaram a chamada (pela mídia grande) Primavera Árabe e
movimentos nacionais de contestação para mudança de regime político nos
países resistentes à hegemonia do grande capital, representado
principalmente pelos governos americano, inglês, francês e alemão. Joga luz,
ainda, sobre a presente instabilidade política nos países do Cáucaso
(segunda fronteira de exploração de petróleo e gás, além da bacia Levantina
do Mediterrâneo, por coincidência aonde se localizam todos os países árabes
desestabilizados cinicamente em nome da `luta pela democracia e libertação
de povos oprimidos`).
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Livro: Desagregação – Por Dentro de uma Nova América . George
Packer. 2013. Editora Cia. das Letras.
RESENHA:
O autor é um premiado jornalista investigativo estadunidense que contribui
para vários jornais e revistas (The New York Times, Boston Review, World
Affairs, Harper`s, dentre outras) daquele país. Neste livro, o autor discorre,
com base em ampla pesquisa bibliográfica e em entrevistas com
personagens representativos de diversas classes sociais e categorias
profissionais dos EUA, sobre a deterioração da qualidade de vida e a
destruição do sonho americano de enriquecimento e grandeza pelas
oportunidades geradas no período pós 2a Grande Guerra, quando os EUA
emergiram como liderança incontestável do Ocidente3. Os depoimentos dos
entrevistados resultaram em histórias que perpassam não só os
trabalhadores que perderam seus empregos pela oligopolização de setores
econômicos como o varejista (exemplificado pelo avassalador crescimento do
Wall Mart no interior dos EUA), perderam suas casas pela crise da bolha
hipotecária (2007-2008), por experiências vividas por assessores de políticos
de primeira grandeza (como um que assessorou o vice-presidente Joe
Bidden), pequenos empresários empreendedores que faliram ao se
confrontar com os interesses maiores das gigantes nacionais da energia, de
empresários com grande visão oportunista que ficaram multimilionários ao
contribuir decisivamente para a crise das ponto.com na Bolsa de Valores,
dentre outros.
Livro: O Brasil Privatizado – Um Balanço do Desmonte do Estado.
Aloysio Biondi. 2014. Editora Geração. (Relançamento).
RESENHA:
O Autor (falecido em 2000) foi um jornalista investigativo especializado em
Economia que trabalhou em vários jornais (Folha de São Paulo, Jornal do
Comércio – RJ, Correio da Manhã, Opinião) e revistas (Veja, Visão), muitos
já extintos devido ao processo de oligopolização crescente da mídia
corporativa brasileira até o início deste século. O livro trata, com inúmeros
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
2 Nota do Desinformado:
Devido ao enorme controle do espaço psicossocial pelas grandes corporações de mídia nos
EUA, aos seus habitantes tem sido escondido o fato de que o boom econômico pós Guerra
se deveu principalmente à receita de sua indústria bélica nas décadas de trinta e quarenta do
século passado, fornecedora tanto dos aliados quanto do eixo nazifascista (isto até sua
tardia entrada na guerra, em dezembro de 1941, com o ataque ao porto de Pearl Harbour).
Soube deste fato por um conferencista português na Universidade de Leeds, em palestra
proferida em maio de 1994 (se não me falha a memória), em que abordava o papel da
neutralidade de Portugal na Segunda Guerra Mundial. Ainda hoje, dezenas de milhões de
estadunidenses vivem de empregos da sua indústria bélica e de segurança (que tem a
indução de atmosferas de terror, para gerar medo na população, como seu principal
instrumento de marketing no desenvolvimento de seu mercado consumidor).
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exemplos e dados, do processo de expropriação do patrimônio nacional, via
privatização de empresas estatais, pelos governos pós ditadura militar, com
especial destaque para os anos FHC e a prática política do tucanato no
poder. Como diz a orelha do livro: ... ``é um livro clássico da rapinagem da
Era da Privataria que se lê de um só fôlego, assaltado por sentimentos que
vão da incredulidade total à indignação desabrida com a pilhagem do
patrimônio público construído por muitas gerações``. O livro faz um balanço
das privatizações e mostra com números indiscutíveis quem realmente
ganhou e quem perdeu com o tucanato no poder.
Livro: A Doutrina do Choque – A Ascensão do Capitalismo de Desastre.
Naomi Klein. 2008. Editora Nova Fronteira.
O livro mostra, com o resgate histórico de informações e análises
interessantes, com se impingiu ao Mundo o chamado Consenso de
Washington. Este Consenso tem suporte no fundamentalismo de mercado
proposto por Friedrich Hayek e Milton Friedman e construído sobre a
radicalização da visão religiosa da Economia desenvolvida por Adam Smith
no século XVII. Mostra como os Chicago Boys do Terceiro Mundo (a
exemplo de Pedro Malan, Armínio Fraga - anunciado pelo Aécio nesta
campanha como seu ministro, caso vencedor!, Daniel Dantas et caterva)
foram treinados nos EUA para assumirem o comando das economias de
seus países para implantação da doutrina neoliberal sob regimes ditatoriais,
via choques sócio-políticos, já que esta doutrina é incompatível com regimes
democráticos. Neste processo, o que está em jogo é a hegemonia dos
interesses das grandes corporações capitalistas mundiais - esteio das elites
rentistas hoje dominantes nos EUA e países europeus desenvolvidos,
principalmente Inglaterra, França e Alemanha - sobre os interesses dos
demais países do Mundo. Naomi também mostra neste livro como os
principais detentores do aparato midiático, porta-vozes daqueles interesses,
tentam levar os habitantes de um país-alvo a sentirem-se em situações tão
trágicas e desesperadoras que medidas antissociais ou antidemocráticas
venham a ser aceitas por eles como mal menor. Assim, o negro quadro
pintado pela Globo, Band, Veja, Folha, Estadão e outras, nestes últimos
tempos para a economia brasileira não é mera coincidência!
Livro: Os Arquivos Snowden – A História Secreta do Homem Mais
Procurado do Mundo. Luke Harding. Editora Leya. 2014.
Resenha:
O Autor, jornalista do The Guardian, apresenta a trajetória de vida de um
jovem nerd americano, de espião eletrônico a serviço do Departamento de
Estado americano a herói/mártir da defesa do processo civilizatório de base
humanista. Por não querer viver no Mundo do Big Brother, sem nenhuma
privacidade e vigiado pelo poder dominante, o garoto acabou ferrado nas
estepes russas, deixando uma vida charmosa e confortável com uma bela
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namorada no Havaí. O livro mostra, ainda, quão assustador pode ser a
ambição do ser humano, que faz uso do desenvolvimento tecnológico para
fortalecer e consolidar o thanatos, conforme Freud designou as forças
destrutivas que brotam do âmago humano. Outro livro neste mesmo tema, do
jornalista estadunidense Glenn Greenwald, intitulado Sem Lugar para se
Esconder, 2013, Editora Sextante, também narra a saga do jovem Snowden.
Greenwald mora no Rio de Janeiro e teve um papel crucial na viabilização da
divulgação dos arquivos secretos da NSA que abalou as relações dos EUA
com vários países, Alemanha e Brasil incluídos.
Livro: Operação Satiagraha – Os bastidores da Maior Operação já feita
pela Polícia Federal. Protógenes Queiroz. 2014. Editora Universo dos
Livros.
Resenha:
O Autor narra sua saga, com grande sacrifício pessoal e familiar, na tentativa
de levar às barras da Justiça o Daniel Dantas, operador financeiro do grande
capital no Brasil, articulado para fazer prevalecer os interesses das
corporações financeiras e do Estado americano no país. Protógenes
subestimou o poder corruptor do esquema que investigava e acreditou
demasiado na faxina e renovação feita pelo Governo Lula na Polícia Federal
após 2003. Sabe-se que antes quem mandava naquela instituição era a CIA
americana, como demonstrado pela Revista Carta Capital no início da
primeira década deste século. O livro também deixa transparecer quão
corrompido está nosso sistema judiciário e quão conivente com a corrupção
(que cinicamente alardeia combater) é a mídia corporativa de nosso país.
Livro: Em Busca da Memória – O Nascimento de uma Nova Ciência da
Mente. Eric R. Kandel. 2006. Editora Companhia das Letras.
Resenha:
O Autor é um neurocientista judeu-austríaco que migrou com a família para
os EUA no período de ascensão nazista na Europa, nos anos 30, e que
ganhou o prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina, em 2000, por sua
contribuição à pesquisa dos mecanismos neuronais que conformam e
explicam a formação da memória de longo prazo. Na esteira da descoberta
do cientista russo Ivan Pavlov e outros neuropsicólogos, Kandel demonstrou
que o processo de aprendizagem envolve a produção de proteínas e o
crescimento das conexões sinápticas, fazendo crescer o hardware cerebral e
possibilitando a memória de longo prazo, principalmente nos seres humanos.
Ele demonstrou com sua equipe que, além do condicionamento clássico
pavloviano, existe um processo de sensibilização neuronal que grava os fatos
a que um indivíduo é submetido com tanto mais força quanto mais este
indivíduo é afetado na sua necessidade de sobrevivência e equilíbrio
psicossomático (emocional).
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Livro: Quem Pagou a Conta. Frances Stonor Saunders. 2008. Editora
Record.
Resenha:
A Autora é uma jornalista formada em Oxford há quase três décadas e que
tem produzido vários documentários e livros. Este livro especifico narra a
ação do Departamento de Estado do EUA, via CIA e seus parceiros
preferenciais em suas operações clandestinas (como as Fundações Ford,
Rockefeller, Farfield e outras) no campo da Cultura dos países do Leste
Europeu durante o domínio soviético e em países do então chamado 30
Mundo, Brasil incluído. Saunders discorre, com base em extensa pesquisa
bibliográfica, como o Departamento de Operações Clandestinas da CIA
manobrava para cooptar intelectuais e artistas de posição política
conservadora, algumas vezes apresentando-se sob o rótulo de
esquerdistas/partidários do Socialismo e na sua maioria medíocres em suas
respectivas áreas de atuação4, para contribuir na criação de uma atmosfera
psicossocial no país-alvo que repudiasse qualquer ideia de soberania e
independência em relação aos interesses da elite financeira estadunidense
ou críticos ao tão disseminado ‘’american way of life’’, aclamado então como
símbolo da ‘’igualdade de oportunidades’’, da ‘’meritocracia’’ e da ‘’liberdade
individual’’. Foi uma época de intensa tentativa de globalização do
pensamento McCarthysta e foram essas ações da CIA que viabilizaram
financeiramente, como reporta a Autora, o CEBRAP do FHC no Brasil.
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4!Nota do Desinformado:
No Brasil, são exemplos gritantes da turma deste naipe: Arnaldo Jabor (enquanto cineasta),
os imortais Roberto Marinho, Sarney e Merval (enquanto escritores), FHC (enquanto
sociólogo), Fagner (enquanto compositor), dentre outros.
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Livro: Confissões de um Assassino Econômico. John Perkins. 2004.
Editora Cultrix.
Resenha:
O Autor é Economista e, logo após graduar-se, foi recrutado secretamente
pela NSA estadunidense (aquela onde o Snowden trabalhava) para trabalhar
em uma empresa de consultoria de fachada daquela Agência cujo objetivo
era elaborar estudos de ‘’viabilização’’ de projetos e convencer (normalmente
via suborno) os líderes de países do então chamado Terceiro Mundo a pegar
vultosos empréstimos para construção de infraestruturas (muitas delas eram
meros elefantes brancos). Essas infraestruturas deveriam ser construídas por
empresas dos EUA, assegurando alta lucratividade e deixando enormes
dívidas que tornavam o país-alvo em grande dependência financeira com o
FMI e/ou o Banco Mundial, fragilizando-os economicamente e aumentando
sua dependência política e tecnológica do EUA5, uma vez que aquelas
instituições foram criadas em Bretton Woods (1944) para servir aos
interesses do Império em formação no pós-Guerra (sobre isto, ver o livro
organizado pelo José Luis Fiori intitulado ‘’O Poder Americano’’ . 2004.
Editora Vozes Ltda). Perkins reporta que resolveu abandonar suas
atividades, num laivo de dor de consciência, quando percebeu o quão
manipulado pela mídia era o povo estadunidense, quando presenciou o
ataque às Torres Gêmeas e a surpresa de cidadãos comuns dizendo: como
podem fazer isto com um país que só ajuda os demais países do Mundo?
Sua filha também, mais ‘’desinformada’’ que a grande maioria do nobre povo
americano, teve papel central em convencê-lo a tornar-se um militante na
denúncia global dos estratagemas do Império.
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4 Nota do Desinformado:
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Isto explica porque o Lula, logo ao assumir o poder no Brasil em 2003, pagou as dívidas de
empréstimos com o FMI e o Clube de Paris, despachando-os para cantar noutro terreiro.
Isto também explica porque o Lula articulou a criação dos BRICS e a Dilma estimulou a
criação de um banco e um fundo alternativos àquelas guardas-pretorianas dos interesses do
grande capital globalmente articulado e capitaneado pelos EUA.
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