quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Compadre Kennedy e Comadre Jacqueline

Há 50 anos morria, de morte matada, o presidente americano John Kennedy.  Na época, correu no Ceará uma conversa de que Kennedy faltou pouco pra nos visitar. Viria prum batizado (Kennedy era católico de origem irlandesa). Desgraçadamente, o mataram. Passaram-se mais 49 anos até que um presidente americano chegasse no Ceará. E quem acabou passeando, por primeiro, os gringos olhos azuis nos verdes mares alencarinos foi Bill Clinton, em 27.08.2012. Bill veio palestrar na Terra da Luz.

Kennedy brigara com os charutos acesos do Fidel: apoiara a fracassada invasão de Cuba pela Baía dos Porcos. Fez conta de umas poucas ogivas soviéticas postas na ilha. Luta diplomática feia que quase leva o mundo a um conflito nuclear. Já Clinton, dizem as más bocas, era apreciador dos charutos do Fidel. Não sei se sua estagiária, que quase o levou ao Impeachment,  apreciava charutos também. Nem se Clinton a indagou sobre isso. E se deu que a palestra de Clinton em Fortaleza confirmou o já sabido. O sol do Ceará, embora forte demais pra produzir charutos cubanos,  e o vento são de levantar pelos ares saia de mulher distraída. No mais, $ no bolso, que o sacrifício e a história de respeito do homem dão respaldo a sua Fundação. Mas respeito carente ainda de deixar passar Bill ileso de apelido. Não se perdeu a viagem pro Ceará e o homem ganhou alcunha de Bill Clitoris.

Mas vamos de volta ao motivo do presente leriado: a visita, que não  se deu, de John Kennedy ao Ceará. De vera, nem prometida foi. Promessa de visita quem tinha mesmo era nosso vizinho estado, Rio Grande do Norte. Então que a estória não se dera no Ceará, mas em terras potiguares. Pelo bem, pelo não, na falta de comprovante de autoria autenticado em cartório, vamos falsear o nome dos  personagens principais e lugar da ação: Zabelê, Zefa, João Quenedi e Icó.

Zabelê e Zefa eram casados em igreja de padre e moravam no Icó, cidade do sertão cearense assemelhada aos Estados Unidos, pois tem tradição passada de brigas de bacamarte, cacete, facão e foice. Talvez por isso um dia declarou-se república soberana do Icó, inclusive com ministério da marinha, igual a Bolívia. Zabelê e Zefa, icoenses da gema,  tinham um filho por batizar, João Quenedi. A gente do Icó recebia o leite do FISI, um programa de distribuição de leite em pó da Aliança para o Progresso, patrocínio da USAID - Agência para o Desenvolvimento Internacional. Propaganda americana frente à ameaça vermelha do Kruschev; arenga da CIA com a KGB. De sobra, com o leite, veio junto o simpático presidente americano John Kennedy e, no seguinte, o nome do filho de Zabelê e Zefa: o desmamado Quenedim.

De tanta admiração de Zabelê e Zefa pelo casal Kennedy, Zabelê não ficou satisfeito em apenas dar o nome de João Quenedi ao filho. Inventou mais de convidar os Kennedys pra serem compadres no batizado do Quenedim. A cerimônia seria na igreja matriz do Icó. Zabelê contou pra mulher a intenção e Dona Zefa se arreliou. Tu é doido é, ôme de Deus? Seu Kennedy lá tem tempo pra vir por essas bandas! Mas Zabelê não arredava o pé. Ora Zefa, é véspera de eleição, o homem arruma tempo e vem aqui, quer apostar? Sei não, Zabelê, mas bem que a gente podia mandar uma cartinha convidando eles pro batistério. Dona Matilde tem a letra bonita e pode fazer isso pela gente.

E se deu que Dona Matilde se informou do endereço da Casa Branca e, numa caligrafia caprichada, convidou o casal pra ser padrinho do João Quenedi do Icó. Surpresa não foi que dias depois Zabelê recebeu resposta do Consulado Americano. Na missiva, o Presidente dos Estados Unidos e Primeira Dama contava se sentiam  muito honrados com o convite pra cerimônia de batismo do futuro afilhado, mas que eram muitos os afazeres do ofício da Casa Branca. O Presidente e a Primeira Dama não poderiam comparecer, mas  autorizavam Zabelê e Zefa a chamar uma autoridade local para representá-los no evento de compadrio. O representante escolhido por Zabelê foi o Prefeito Raimundo que cumpriu na festa de batismo, com extremo zelo, o procuratório recebido.

Passou pouco tempo e se deu o infausto acontecimento do assassinato do presidente americano. Zabelê quase cai pra trás quando soube. Morrera pra ele uma pessoa muito especial da família. Saiu pra casa arrasado, pensando como ia dizer a notícia desgraçosa pra esposa. Zefa, você num sabe, mulher... Sei Zabelê. Meu coração tá soluçando de dor com a morte do Compadre Kennedy, que ele não merecia uma desgraça dessas, homem de Deus. Oh gente infeliz é  matador de aluguel! Vou vestir luto por mais de ano. Mas eu queria mesmo era agora tá junto da Comadre Jacqueline; dar um conforto pra ela. Zabelê. Será que Raimundo Prefeito arruma passagem pra nós ir pro velório do Compadre?


John Fitzgerald Kennedy (Brookline, 29 de maio de 1917 — Dallas, 22 de novembro de 1963)

Fonte com a história provavelmente verdadeira, que a minha está romanceada.
http://gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/imprimir.php?c=138445

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