domingo, 22 de abril de 2012

CPI

Representantes do povo:
Oh que estorvo!
Desculpas esfarrapadas:
Mais piadas!
Querem me persuadir:
É pra rir!

Até já dá pra sentir
De vera, não fosse trágico
Se de um passe de mágico
Desse em nada a CPI.

George Alberto de Aguiar Coelho

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Borboletas







Lindas graúdas borboletas
Que eu via nos tempos de menino
Lentas macias adejam
Um róseo e um amarelo
Pingados sobre um fundo preto.

Lindas graúdas borboletas
Que um dia foram lagartas
Outro dia ninfas, crisálidas
Metamorfose lapidar
Desta e de outras vidas.

Texto de George Alberto de Aguiar Coelho

A foto de Massoud Houssaini



A foto é de Massoud Houssaini, da AFP e foi premiada pelo Pulitzer. Mostra o desespero de uma criança afegã em meio a uma pilha de corpos destroçados pela explosão de um homem bomba. 

Atrás de uma guerra sempre tem um interesse econômico, uma briga religiosa, uma luta pelo poder. Atrás de uma guerra sempre abundam as mentiras e justificativas imbecis.

Heróis de guerra? Não existem. Pelo menos os que empunham armas, bombas e palavras ocas. Não são heróis. Às vezes, até recebem medalhas e prêmios de paz. Mas que tipo de herói é o que mata, direta ou indiretamente, o seu  semelhante motivado por uma ideologia, uma religião ou interesse escuso? Não, não existem heróis nas guerras. Não existem vencedores de guerra. Todos perdem, porque perdem a qualidade que se espera de gente. Existem, sim, vítimas. E também assassinos que dão vazão a instintos bestiais.

Sim, também há os que, de certa maneira e sob o ponto de vista econômico,  ganham com as guerras. Geralmente, são os mesmos que as provocam. Dentre os beneficiários, certamente  está a indústria armamentista; estão os trustes internacionais, os interesses estratégicos de nações ditas civilizadas; estão os que idolatram o poder e nele se assentam como se fossem eternos; estão os que se corrompem a ponto de aniquilar, em lotes sem fim, a vida do semelhante.

Também não existem guerras ascéticas, pontuais, guerras de vídeo-game. É mentira. Como se pode enganar tanta gente durante tanto tempo? Todas as guerras despedaçam corpos indiscriminadamente, acabam vidas inocentes. Guerras, são todas elas criminosas, não importa como se as justificam. Guerras sempre provocam vinganças e mais guerras, com efeitos em cadeia. Perversos efeitos de todas as guerras.


George Alberto de Aguiar Coelho 


A foto acima foi extraída, em 19.4,2012, do link:

http://fotos.noticias.bol.uol.com.br/imagensdodia/2012/04/17/premio-pulitzer-de-fotografia.htm?fotoNav=163







segunda-feira, 16 de abril de 2012

O rei que caça elefantes

Era, ou melhor, é uma vez um Rei que gosta de caçar. Adora caça graúda: touro, rinoceronte, urso, elefante. Caça inclusive a palavra, ou matraca, de chefes de estado. Por que não faria calar?Principalmente se o estado era antiga colônia submissa ao reinado dos seus antepassados. O Rei sabe onde pisa. E a palavra de Rei é um tiro: “Hombre, por que não te calas?”.

Mas o Rei não vive preso ao passado. O Rei é moderno, posa de ecologista, sai bem na foto. É presidente de honra de sucursal no reino de famosa organização mundial ambientalista. E tal organização dedica-se a pedir, receber e aplicar verbas  para a defesa dos touros, rinocerontes, ursos, elefantes. Os mesmos avantajados bichos que o Rei se dedica a matar em passatempos medievais. A aparente contradição apontada não resiste a uma explicação lógica.

Porque a caça é moralmente proibida apenas aos súditos, ou sem dinheiro. E, ademais, o Rei paga bem por cada elefante morto a tiros: E o dinheiro é importante para o país belo e pobre da África. Tão importante que lá na Botswana, sítio de caça do nosso Rei e de outros afortunados caçadores, os elefantes podem ser mortos a tiros por quem lhes possa pingar as mãos com 40.000 Euros. Tudo muito  legal. Se quiser, vem junto nota fiscal carimbada com a identificação do espingardeado bicho, foto do matador com o pé em cima do morto e a coordenada geográfica do acontecido.  

Mas a vida do Rei é preciosa. Além do mais, sua coragem se realça na medida certa com convenientes acólitos. A essas  alturas, é bom que se explique essa palavra acólitos. Se chama assim os ajudantes necessários à realização de uma dada tarefa. Por exemplo, um coroinha que ajuda o padre a celebrar uma missa é um acólito. Na estória, os acólitos servem aos desígnios reais, protegendo Sua Majestade de imprevidentes e mais ousados bichos. E eles, acólitos, naturalmente no afã de melhor servir ao rei, podem dar-lhe uma mãosinha  a mais. Assim, por vezes, os acólitos acabam por alcoolizar a caça real.

Foi assim com um urso que o Rei caçou em Vólogoda, na Rússia. Não sei se disseram pra Sua Majestade. Não creio, pois não é sensato mexer nos brios reais. Então, que o Rei não ouça, mas o urso branco que papocou na gelada estepe russa tinha tomado um pileque de mel com vodka. O urso foi alcoolizado pelos acólitos do rei. Depois de embriagado, nem reclamou o abatimento nos drinques, ou melhor, nos trinques,  praticado majestaticamente pela bala de prata real.

Falemos agora de família. A família que caça unida, unida permanece. E a família real é unida, sim. Nas caças e também nos acidentes destas. Acidentes que, infelizmente, acontecem até pros ungidos no direito divino da realeza. Assim, foi com o Rei num dia francamente (Ops! Franco, não!) infeliz. Caiu, literalmente, do cavalo, ou de montaria parecida, que a estória não chega no capricho às oiças dos súditos. Já o neto do Rei, um menino novo que pro futuro promete muito,  atirou, também literalmente, no próprio pé. Pra alegria de todo  o reinado, Rei e neto passam bem, obrigado!

Contudo, a família real se vê injustamente infelicitada por comentários inapropriados de mal-agradecidos súditos da realeza. Vejam só a maldade: Não era hora do Rei ter deixado o seu posto que o reinado está em situação difícil; E se não tivesse ocorrido os acidentes, se saberia da caçada? Quem vai pagar os tiros? Não é a ocasião da gente virar república, como o nosso vizinho de união Ibérica fez um dia? Vigie que os novos tempos não são os tempos do caçador Theodore Rossevelt, presidente americano do "big stick" (O homem caçava e salgava exemplares de tudo que era bicho grande pros museus americanos, dando cacetada em quem achasse ruim).

E nisso de reclamar e reclamar, chegou um súdito desaforado e sugeriu: “Meu Rei, por que não te caças?”.

George Alberto de Aguiar Coelho

Fontes:
http://politica.elpais.com/politica/2012/04/16/videos/1334589330_651812.html
http://www.elmundo.es/elmundo/2006/10/29/espana/1162129515.html
http://www.guardian.co.uk/world/2012/apr/15/spain-king-juan-carlos-hunting?INTCMP=SRCH
http://www.nytimes.com/2012/04/17/world/europe/king-of-spain-has-hip-surgery-after-hunting-trip.html?_r=3&ref=kingofspainjuancarlosi#


Nota:
Se gostas de Botswana, que tal fazer coisas decentes por lá, que não sejam matar elefantes.:

quinta-feira, 12 de abril de 2012

As árvores nos surpreendem


 

As árvores (Olavo Bilac)
Olha estas velhas árvores, — mais belas,
Do que as árvores mais moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .


O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas . . .


Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,


Na glória da alegria e da bondade
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Incrível o desprezo de muita gente e governo da minha cidade, Fortaleza, pelas árvores. Amanhã, 13.04.2012, a cidade completa 286 anos e tudo será festa. Mas um dia desses, aproveitando um feriado de carnaval, deixamos que fossem decepadas e arrancadas aos troncos dezenas de árvores da urbe. Um quarteirão inteiro de árvores, pássaros e insetos sucumbiram à sanha imobiliária em plena Aldeia, Aldeota. Nenhum pio dos órgãos governamentais. Silenciaram cúmplices na covardia do ato ignóbil. Morremos um pouco, de tristeza, um muito, de vergonha.

Beira a estupidez crônica o verdadeiro horror que se tem pelas árvores. Pelo menos, me fica essa impressão. Sim, porque, por aqui, se as arrancam do solo pelos motivos mais fúteis. Servem de razão maluca desde a caída das folhas, para dar melhor visão, porque se encheram de insetos, porque suas raízes levantaram as calçadas, porque podem cair nos carros, para dar lugar a estacionamentos, porque se vai passar uma rua, porque tá fora do alinhamento da obra e por aí vai. 

E a rejeição que se tem a esses viventes é parte de uma cultura antiga. Se algo queríamos descartar como lixo, se dizia: vou rebolar no mato.  Arrancar o mato era o mesmo que eliminar árvores, arbustos e ervas, com os agregados seus pássaros, sapos, manés-magos, besouros, borboletas. E a brabeza ferina em novos dias, engrossou com a tecnologia e  a gana do dinheiro. Como se fazem podas por aqui? Verdadeiros mutilamentos que comprometem e são motivo de morte de muitas árvores. As feridas não se cicatrizam e, por elas, as árvores contaminam-se doentes de bactérias, fungos etc. que as levam à morte. As concessionárias de energia elétrica, telefone, TV a cabo fazem sua parte. Querem tudo bem limpo, pra não ter mais trabalho, menos gasto. Então, que aja a moto-serra a bel prazer. 

Mas, em resposta, as árvores continuam a nos ensinar, a nos encantar, como nos versos de Olavo Bilac e a nos surpreender, como na reportagem abaixo do The New YorkTimes.

Árvores são usinas mágicas. Árvores embelezam o ambiente e trazem a alegria, o grito dos saguis, o canto dos passarinhos. Só isso bastaria para tê-las. Mas, não é só. Com a fantástic reação química da fotosíntese, transformam a luz solar, mais o gás carbonico e a água em alimentos, oxigênio e madeira. Sem árvores, se respiraria veneno, CO2 dos carros e fábricas. Os pulmões se agregariam de material tóxico. O aquecimento global se intensificaria. Sim, as árvores baixam em até 10 graus a temperatura nas suas proximidades. Filtram radiações do sol, a maioria maléficas aos humanos. Árvores aprisionam  materiais tóxicos provenientes do lixo que a gente mesmo produz e descarta. Estabilizam o solo, evitando erosões, desmoronamentos. Absorvem a água impedindo inundações. Ao se decomporem, geram ácidos que alimentam os plânctons dos mares, responsáveis primeiros pela cadeia alimentar. Ambientes com árvores aliviam o estresse, a angústia, evitam depressões, mais doenças nervosas, males respiratórios, cancros vários. 

Isso é só um pouco do que as árvores fazem por nós. E diversos dos benefícios que nos trazem são ainda desconhecidos. Porém, muitas espécies de árvores já foram extintas e outras correm o risco de se acabarem pela degenerescência provocada com o aniquilamento sistemático delas feito pela ação do homem. Não acredita? Então veja a reportagem abaixo. Use o Google Tradutor, se o inglês atrapalhar. Mas, pelo amor de Deus, aprenda a gostar, se já não gosta, das árvores. Proteja-as.

Texto de George Alberto de Aguiar Coelho

Fonte:

É doce?

Essa piada de doce eu devo ao meu amigo Zé de Nona, d´aqui perto. Só fiz acrescentar um floreado nela, pra melhor entrega do produto:

É a estória dum menino vendendo a famosa laranja de Russas na antiga parada da Expresso de Luxo em Frecheirinhas no Ceará. Os ceguinhos pedindo esmola. As velhinhas vendendo rapadura preta da Ibiapaba, trazida nos caçuás a lombo de jumento. Mormaço de pé-de-serra. Meio-dia, quentura dos infernos e o menino repetindo todo tempo: "Quem quer laranja? Laranja! Laranja! Laranja!..." Uma passageira se debruça na janela da Expresso e pergunta pro menino: "É doce?" O menino responde de pronto: "É não Senhora. Se fosse doce, eu tava divulgando assim: Quem quer doce? Doce! Doce! Doce!...".
George Coelho

Obs.

1. A Expresso de Luxo era empresa antiga de ônibus de carreira dos irmãos Paula Joca, pintado do mesmo amarelo-piçarra das rodagens que percorria no meu tempo de menino. 
2. A famosa laranja de Russas se chamava assim pelo nome da cidade à beira do rio Jaguaribe, o maior rio seco do mundo. (Que orgulho mais besta esse do cearense comemorar o maior rio seco do mundo! Que rio seco serve pra quê? Se bem que hoje o Jaguaribe foi perenizado). E o laranjal doce de Russas? "Se-acabou-se o que era doce”. O bicho comeu.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Olha o bicho que vai dar!


Oh! que país mais decente
Li a notícia do dia
Quase tive uma agonia
Que jornal aqui não mente
Cachoeira é inocente
Logo vai ser liberado
Se tem culpado, é o agente
Que o mantem trancafiado
Solte o homem delegado
Ele é muito boa gente.

George Alberto de Aguiar Coelho

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,marcio-thomaz-bastos-pede-ao-stj-libertacao-de-cachoeira,859013,0.htm#

Estado Laico



Jean Wyllys tem a coragem de dizer as coisas, penso eu. Por isso, passei a admirá-lo. O texto seu, em realce abaixo, remexe questões que, de forma hipócrita, muitos auto-ungidos procuradores de Deus escondem aos pobres rebanhos, remoídos que estão estes em remorsos e temores mil no reservar para si uma sobrevivência ao final dos tempos pretensamente assegurada por aqueles, substitutos seculares do Divino. Isso quando não são simples ovelhas iludidas por promessas terrenas de prosperidade mágica a toque de caixa. Assim fragilizados e compungidos, os obedientes discípulos de boa fé servem aos interesses clericais mercantilistas de igrejas de vários matizes ditas cristãs. No passado, tal prática levava o nome de indulgência, remição das penas, perdão e gerou alguns importantes cismas.
Se ficasse apenas nisso, tudo bem, cada um sabe, ou deveria saber, onde o sapato aperta. Mas o problema é a ambição política de tais lideranças e, com esta, a pretensão de impor seus valores ao estado laico, ameaçando-o pelo fundamentalismo religioso. Assim a alerta de Jean muito procede. No trecho seu, transcrito abaixo, coloquei reticências nos nomes mencionados na íntegra do artigo, pois, por via das dúvidas, não tenho a imunidade parlamentar conferida constitucionalmente ao autor deputado. 
De tal forma que a própria lei cria pesados óbices ao cidadão comum, quando do enfrentamento aberto desta e de muitas outras questões de interesse da sociedade. Isso porque o dinheiro reserva para si o poder de contratar os melhores causídicos. Parodiando a velha propaganda do famoso refrigerante: Democracia é isso aí! Iguala-se assim a uma censura legal  preventiva e prorrogativa que acolhe, expande e perpetua ideias e proselitismos impostos a bel prazer e interesse de quem se açambarca nas rédeas do poder e escreve as leis. 
Mas vamos lá, Jean Wyllys, você pode falar e pingar os pontos nos "is". Quem sabe assim nos livremos do fundamentalismo religioso, cada vez mais ferino e avassalador que nos ameaça, nos cala e faz a premissa do estado laico parecer letra morta, ou melhor, letra matada.
"A conquista da cidadania plena e a afirmação do Estado laico e democrático de direito passam pelo enfrentamento aberto e desmascaramento do proselitismo fundamentalista de reacionários como ... e dos pastores e igrejas que financiam campanhas políticas para terem seus privilégios e interesses assegurados, beneficiados que são pela isenção tributária garantida pela Constituição e pela ausência de fiscalização rigorosa do dinheiro que arrecadam com a exploração da boa fé, sobretudo de gente pobre e desesperada."


George Alberto de Aguiar Coelho

http://www.cartacapital.com.br/politica/a-tagarelice-dos-maus/?autor=407


domingo, 1 de abril de 2012

As cores do mundo



A matemática se expressa fundamentada na lógica. Mas há, pelo menos, pois muitas outras existirão, duas logicas matemáticas. A primeira lógica é a booleana que admite apenas dois valores: o verdadeiro (1) e o falso (0). Os computadores de hoje usam tal lógica. E a combinação dos zeros e uns os fazem funcionar em miríades de possibilidades. A segunda lógica é a difusa ou lógica fuzzy. Esta admite infinitos valores entre o (0) e o (1), como fruto das probabilidades matemáticas. No mundo, não há, portanto, somente a cor preta (ausência das cores visíveis) ou a cor branca (combinação de todas as cores que se vê). Existe também o vermelho, o verde, o azul e as combinações entre essas três cores formando nuanças mil. E toda uma tonalidade de cores cujos matizes se encontram no campo do visível sensorial e transbondam abundantes no espectro de ondas detectáveis apenas por sofisticados equipamentos. E há mais zilhóes doutras cores ainda não conhecidas que formam o mundo do que não vemos.
George Alberto de Aguiar Coelho

Desenho Sandra Coelho
http://oscoelhosdocascavel.blogspot.com.br/2012/04/quantas-cores-possuem-o-mundo-sandra.html