Mas o Rei não vive preso ao passado. O Rei é moderno, posa de ecologista, sai bem na foto. É presidente de honra de sucursal no reino de famosa organização mundial ambientalista. E tal organização dedica-se a pedir, receber e aplicar verbas para a defesa dos touros, rinocerontes, ursos, elefantes. Os mesmos avantajados bichos que o Rei se dedica a matar em passatempos medievais. A aparente contradição apontada não resiste a uma explicação lógica.
Porque a caça é moralmente proibida apenas aos súditos, ou sem dinheiro. E, ademais, o Rei paga bem por cada elefante morto a tiros: E o dinheiro é importante para o país belo e pobre da África. Tão importante que lá na Botswana, sítio de caça do nosso Rei e de outros afortunados caçadores, os elefantes podem ser mortos a tiros por quem lhes possa pingar as mãos com 40.000 Euros. Tudo muito legal. Se quiser, vem junto nota fiscal carimbada com a identificação do espingardeado bicho, foto do matador com o pé em cima do morto e a coordenada geográfica do acontecido.
Mas a vida do Rei é preciosa. Além do mais, sua coragem se realça na medida certa com convenientes acólitos. A essas alturas, é bom que se explique essa palavra acólitos. Se chama assim os ajudantes necessários à realização de uma dada tarefa. Por exemplo, um coroinha que ajuda o padre a celebrar uma missa é um acólito. Na estória, os acólitos servem aos desígnios reais, protegendo Sua Majestade de imprevidentes e mais ousados bichos. E eles, acólitos, naturalmente no afã de melhor servir ao rei, podem dar-lhe uma mãosinha a mais. Assim, por vezes, os acólitos acabam por alcoolizar a caça real.
Foi assim com um urso que o Rei caçou em Vólogoda, na Rússia. Não sei se disseram pra Sua Majestade. Não creio, pois não é sensato mexer nos brios reais. Então, que o Rei não ouça, mas o urso branco que papocou na gelada estepe russa tinha tomado um pileque de mel com vodka. O urso foi alcoolizado pelos acólitos do rei. Depois de embriagado, nem reclamou o abatimento nos drinques, ou melhor, nos trinques, praticado majestaticamente pela bala de prata real.
Falemos agora de família. A família que caça unida, unida permanece. E a família real é unida, sim. Nas caças e também nos acidentes destas. Acidentes que, infelizmente, acontecem até pros ungidos no direito divino da realeza. Assim, foi com o Rei num dia francamente (Ops! Franco, não!) infeliz. Caiu, literalmente, do cavalo, ou de montaria parecida, que a estória não chega no capricho às oiças dos súditos. Já o neto do Rei, um menino novo que pro futuro promete muito, atirou, também literalmente, no próprio pé. Pra alegria de todo o reinado, Rei e neto passam bem, obrigado!
Contudo, a família real se vê injustamente infelicitada por comentários inapropriados de mal-agradecidos súditos da realeza. Vejam só a maldade: Não era hora do Rei ter deixado o seu posto que o reinado está em situação difícil; E se não tivesse ocorrido os acidentes, se saberia da caçada? Quem vai pagar os tiros? Não é a ocasião da gente virar república, como o nosso vizinho de união Ibérica fez um dia? Vigie que os novos tempos não são os tempos do caçador Theodore Rossevelt, presidente americano do "big stick" (O homem caçava e salgava exemplares de tudo que era bicho grande pros museus americanos, dando cacetada em quem achasse ruim).
E nisso de reclamar e reclamar, chegou um súdito desaforado e sugeriu: “Meu Rei, por que não te caças?”.
George Alberto de Aguiar Coelho
Fontes:
http://politica.elpais.com/politica/2012/04/16/videos/1334589330_651812.htmlhttp://www.elmundo.es/elmundo/2006/10/29/espana/1162129515.html
http://www.guardian.co.uk/world/2012/apr/15/spain-king-juan-carlos-hunting?INTCMP=SRCH
http://www.nytimes.com/2012/04/17/world/europe/king-of-spain-has-hip-surgery-after-hunting-trip.html?_r=3&ref=kingofspainjuancarlosi#
Nota:
Se gostas de Botswana, que tal fazer coisas decentes por lá, que não sejam matar elefantes.:
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