terça-feira, 12 de julho de 2011

Homenagem

Nunca esqueço a esquelética Maria
Era a mais pontual das lavadeiras
Conseguia passar noites inteiras
Engomando os lençóis da burguesia
Da sua carunchosa moradia
Vinha um ranger eivado de canseira
E nem sei se era um ruído de madeira
Ou se era o seu corpo que rangia
Vivendo entre camisas engomadas
Eu lembro as suas mãos tão calejadas
E detesto a camisa em que me encerro
Se me saísse a alma da carcaça
Eu a daria e lhe diria: passa, dona Maria,
Passa essa alma a ferro!

Poesia de Giuseppe Ghiaroni  publicada no jornal “O Povo” por Cristiano Câmara. Não anotei a data da publicação.

Sobre o Poeta:

Sobre lavadeiras:
O tempo das lavadeiras passou. Lavavam as roupas em rios, em riachos, em tanques. Vejo-as, há uns 40,  50 anos atrás, onde hoje é a avenida Aguanhambi, lavando roupas, o vestido entre as pernas cobrindo as partes pudicas, cheirando a sabão, estendendo os lençóis brancos nos coradouros de pedra. A rotina pesada de lavar: entrouxar, molhar, ensaboar, bater, corar, enxaguar, secar, engomar e passar.

Sobre Cristiano Câmara:
Mora em uma antiga casa com um museu aberto às visitações. Há um riacho passando no quintal da casa: o Pajeú.  Câmara, parodiando Fernando Pessoa, assim se refere ao riacho: “não é o Tejo, mas é o rio que corre por minha aldeia”. Espécie de Ariano Suassuna cabeça-chata, Cristiano Câmara  é pesquisador, colecionador, conhecedor de música e, ocasionalmente, contribui nos jornais alencarinos trazendo peças preciosas como a acima.

 George  Alberto de Aguiar Coelho
 Escrito em 12/2007

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