Quando vi o título do livro, “Como Falar dos Livros que Não Lemos", de Pierre Bayard, me veio duas lembranças. Uma antiga, foi de reportagem que li - não sei aonde - de um jornalista que entrevistou Nelson Rodrigues. O escritor e teatrólogo pernambucano era também extraordinário comentarista de futebol de onde retirava matérias para frases lapidares parecidas com: “O pênalti é tão importante, que o presidente do clube é quem deveria batê-lo”. Pois bem, Nelson marcara a entrevista com o jornalista exatamente no dia e hora de um importante jogo do campeonato carioca.
Dia e hora marcados, estava o jornalista - apreensivo e pensativo - na porta da residência de Nelson: “Ih! Vai zebrar. Nelson não se lembrou do compromisso do jogo de hoje; essa hora, deve está no estádio”. Tocou a campainha, mas Nelson estava, atendeu, mandou subir; e o recebeu; e desligou o rádio que relatava o início da partida. E a entrevista foi longa que demorou todo o lapso do jogo. No final, o jornalista agradeceu, um pouco com remorsos. Pensava: atrapalhei o Nelson; amanhã, não teremos comentário dele sobre o jogo. Dia seguinte, pegou o jornal na página de esportes, lá estava o comentário do Nelson Rodrigues, como sempre, brilhante.
A segunda lembrança, mais recente, li na revista História da Biblioteca Nacional, ano 3, n. 28, de 01/2008, p. 70/75, diz que o pintor Jean Baptiste Debret - o mais notório retratista do Brasil no século XIX - foi pouco além da Corte do Rio de Janeiro e boa parte de passagens por ele retratadas de vários locais que ele não visitou eram inspiradas em desenhos de outros artistas que, esses sim, tinham estado naquelas paragens.
De tal sorte, que conto essas duas lembranças, pra evitar falar de um livro, que fala sobre como falar de livros que nunca lemos, sem não o ter lido.
Mas, adianto: pelas resenhas que li, o livro é muito bom. E pra confirmar, veja só o que li na Carta Capital de 06/02/2008, p. 59: “Professor de Literatura na Universidade de Paris e psicanalista, o autor Pierre Bayard desfaz mitos sobre a leitura ao mesmo tempo que flerta com seus irresistíveis mistérios. Tudo num tom descontraído. Por meio de personagens literários e escritores, ele recria as corriqueiras mentiras de quem diz que leu algo sem ter lido, pondera que “ler não é apenas se informar é também esquecer “ e defende uma teoria sobre as bibliotecas particulares e universais que compomos não só a partir das páginas folheadas, mas também a partir do que ouvimos, vivemos ou, simplesmente inventamos – APS”.
Publicado no jornal I-Decop BC em 02/2008
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