sábado, 10 de março de 2012

O P101 da Olivetti







O primeiro computador que me viu fazer linhas de programa foi um 1130 da IBM que pertencia a  Unversidade Federal do Ceará – UFC. Na época, deixava-se de lado as réguas de cálculo, substituídas que foram pelas calculadoras. O IBM 1130 tinha 16 kbytes de memória principal (RAM). Os programas eram digitados em máquinas perfuradoras de cartões de papel de 132 colunas. Para cada  instrução de programa, correspondia um cartão de papel perfurado. A leitora de cartões, ligada ao equipamento, funcionava com uma escova que penteava cada cartão, conectando os dados perfurados destes  com os circuitos elétrícos da máquina. A linguagem que usávamos era o FORTRAN, apropriada aos cálculos de engenharia. Outra linguagem que o equipamento aceitava era o COBOL, usado na área administrativa. Assim o IBM 1130 tinha compiladores, progamas que faziam tradução dos progamas fontes em linguagens FORTRAN e COBOL  para a liguagem inteligível da máquina.
Um programa consistia em dezenas, às vezes, centenas de cartões. Para rodá-los - se dizia rodar, em vez de executar - empilhava-se primeiramente os cartões do sistema monitor (espécie primitiva de sistema operacional), depois os cartões do programa propriamente dito e, por fim, cartões de finalização do trabalho (job). A então fabulosa máquina da IBM era quase um medonho mainframe dos então anos 1973-1976. Como disse, pertencia a UFC e estava instalado no antigo CEU, restaurante universitário localizado na avenida 13 de maio em Fortaleza. Um dos especialíssimos técnicos que consertavam o equipamento era meu primo Potengy Coelho, um super-crâneo cabeça-chata da Big Blue. Os homens da IBM quando vinham ver o equipamento, chamavam a atenção pela elegância e sobriedade no vestir e no se comportar. Vinham em dupla, trajados elegantemente de calças, ternos e gravatas azul- escuro e camisas brancas.
Depois, já como engenheiro do departamento de estradas do Ceará, então DAER, eu trabalhei no primeiro micro que se tem notícia e que é assunto desta matéria do PRAVDA aí embaixo: o P 101 da Olivetti. Na ocasião, me lembro de uma consulta feita ao colega engenheiro Célio Melo que mexia com um desses micros pertencente à Escola Técnica e fazia programas extraordinários com a máquina. Usei o P 101 para cálculo estrutural. Um excelente programa de computador para cálculo de vigas contínuas elaborado pelo Professor Aderson Moreira da Rocha me serviu às maravilhas. Na época, fiz também alguns programas para dimensionamento de peças em concreto armado. O P101 trabalhava com linguagem simbólica. Armazenava dados e programas externamente em cartões magnéticos.
Viveu momentos de muita glória, o precursor dos micros. Foi até utilizado pela Nasa em seus programas espaciais. A Olivetti italiana, que antes fazia calculadoras simples, foi inovando e lançou os modelos P602/603 e P652. Mais adiante, o modelo P6060, programado em Basic.
Assim, o P101 fez parte de minha vida e dos primórdios da informática. Vê-lo numa reportagem de hoje, me faz sentir assombro com o avanço da tecnologia de computadores e pensar que, no mundo, tudo é ligeiro e fugaz.



P.S.
Meu amigo Célio lembra que:
"O primeiro que programei, em 1967, anos antes de entrar na EEUFC, foi justamente esse mixuruca P101, como era mais conhecido. Havia um deles na Química do IBUC. O prof. Hugo Mota também tinha um deles. Anos depois, a Olivetti lançou o P602/P603, que permitia calcular estradas, rodar folhas de pagamento (meio que a manivela, cartão por cartão). Tinha memória equivalente a três linhas de 80 colunas: 0,25k. Havia vários desses em Fortaleza: na UFC, na EFCE, na Protégia. Vinha com duas bíblias enormes de instruções. O resumo das instruções do P101 era esse:http://www.old-computers.com/museum/photos/Olivetti_Programma101_SummaryCard_s1.jpg

Um comentário: