sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O cearense do circo de Moscou

A notícia do link abaixo sobre reclamações na China contra donos de circos que usam cachorros vestidos em peles de leões, ratos com peles de animais exóticos, pra simular os próprios bichos nas apresentações circenses, feito propaganda enganosa, me lembrou de antigo estória do cearense que pediu emprego num circo de Moscou. Dá licença, que eu vou contar o leriado.

E dizem que foi verdade, sim Senhor. O cearense tem fama de judeu tanto no comerciar, quanto no viajar. Sucedeu que um deles foi bater em Moscou por via das necessidades, que nao são poucas na terra adusta e sofrida do Ceará. Chegado em Moscou, a fome bateu roncando no bucho do cearense, em meio ao  frio dos infernos. Se é que tem inferno frio. Já nas últimas, de tanto procurar trabalho na cidade,  viu um circo cheio de bandeirolas coloridas e disse consigo: é nesse que eu vou. Foi lá com o seu cearensês e fez o gerente do circo entender direitinho que ele tava necessitado de trabalho.

O gerente russo respostou, dum jeito russo facilmente entendido pelo cearense: emprego não tinha, só tinha um biscate. Qual era? Fácil mesmo. Um leão adoecera. Então que o cabra tinha de vestir pele de leão, pra se fazer do leão doente já pra próxima apresentação do circo. E, claro, o substituto tinha de se comportar de vera, como se leão fosse, pra não despertar reclamação da plateia, nem suspeita das feras. No, sem jeito mesmo, nosso cearense concordou com o trabalho. Com isso foi orientado a se dirigir pro domador, que lhe disse  ligeiro: é muito simples, você preste atenção nos leões e faça igualzinho como se fosse um deles. Quando um rosnar, rosne mais forte ainda, que o bicho é respeitador.

Tudo combinado, chegou o dia da primeira apresentação. O espetáculo acontecia com a grandeza e brilho, que só os russos sabem dar em circo. Gente no trapézio, na roleta russa, equilibristas de arames nas alturas, louras ucranianas belíssimas, com cabelos também louros nos sovacos lindos, soltando fogo comprido pela boca lindona, urso andando de bicicleta, palhaços e mais coisas de circo russo. Até que chega o número dos leões. O domador entra na jaula e vai chicoteando um a um os leões pro mode entrarem na jaula e mostrar disciplina. E, um a um, os leões vão dando resmungos de aborrecidos com a petulância do malvado chicoteador. O cearense também entrou na jaula sem diferença dos outros. Leão ele era ali pra todos os efeitos, até em levar chibatada de domador, que nunca foi de fugir do trabalho acertado, não.

E vestido de pele de leão, trepou-se num tamborete se fingindo do bicho-rei, que ele imitava bem direitinho o danado e, até os resmungos, era ver um leão. Foi-se indo a apresentação, quando se deu que um dos leões, se foi pelo cheiro, se foi por repunar de ruim, não se sabe porque diabos foi, começou a arengar com o leão vestido de cearense, digo, cearense vestido de leão. No primeiro rosno, até que foi fácil, o cearense lembrou-se das instruções do domador e rosnou um pouco mais alto. Mas se deu que, respostando, o leão de vera rosnou mais alto ainda. E o cearense, subiu a intensidade do rosno, que o cabra era reimoso do Tauá, ainda poupando a garganta pruma emergência final. E de arenga dos dois leões, que nenhum deles abria da briga, cada vez  os rosnos subiam de altura. E de tanto subir de um pro outro, eita que a plateia cada vez mais prestava atenção nos dois leões e nem via mais o domador russo.

Se deu, então, que o leão de vera, pra decidir a peleja, rosnou muito, mas muito alto mesmo, até de espantar o corajoso leão-cearense. Mas esse, já sentindo que seria sua última chance, não se fez de rogado e respostou com um rosno tão medonho que todo a gente do circo se encheu de pavor. Não só a gente do circo,  não, mas o leão de vera também se apavorou que, de tanto horror, clamou com voz trêmula e suplicante: valei-me meu Padim Ciço.

Mote:
http://f5.folha.uol.com.br/bichos/2013/08/1326846-zoologico-chines-tenta-disfarcar-animais-usando-cachorros-no-lugar-de-leoes.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário