Pai d'égua de texto o teu, Zé Ivo! Resume a vida de muitos de nós da Engenharia de 1970: a luta, o sentimento do tudo a aprender, mas a determinação de conseguí-lo. Creio que, como você, muitas das barragens e rodagens do país foram os ícones visuais motivadores de nossa formação. No meu caso, a inspiração veio de rodar na Expresso de Luxo dos irmãos Joca pelas rodagens de piçarra vermellha da BR 222 e ver o açude do meu avô puxado o barro a couro de boi. Meu tio, Manuel Elias de Aguiar, era engenheiro civil, diretor de manutenção do DER-MG e seus óculos de aro dourado, lentes Rayban verde-escuro e quepe boné cinza era ver a figura de engenheiro do nosso tempo.
Sempre admirei muito os Zés Sudários. Sem eles não há engenharia civil. Confundem o seu trabalho com os nossos e, creio, formam a classe de gente mais decente que o Brasil tem. Quando, Amilcar, há pouco me chamou de peão, tive um arrepio de orgulho. Duas coisas eu quis ser quando novo, engenheiro civil peão construtor de barragens e motorista de caminhão. Duas profissões de gente que usavam óculos Rayban de lentes verde-escuras, como as do meu tio; duas profissões que viviam em lugares incertos e conviviam com belas raparigas servidoras de café, cuscús, carne assada e seios fartos nos restaurantes de estradas ou barracões de obras.
Foi com essa motivação que eu entrei na engenharia. Nem sabia direito o que fazia mais o engenheiro civil, além de ser bom em matemática. Aliás tive uma grande desilusão (seria desiluisão?) quando o professor Luisão, ensinando Isostática, como se fosse Resistência dos Materiais, dizia que engenheiro só precisava saber bem as quatro operações. Arriégua!
Também fui estudante do Liceu, o anexo da Piedade, onde por quatro anos tive Fagner na mesma classe. Mas todas as dificuldades e mazelas enfrentadas e vencidas pelo Zé Ivo não as enfrentei todas. Contudo também tenho o crédito de, apesar das fraquíssimas aulas do liceu, incomparáveis a de quem foi aluno dos seletos Colégios Cearense ou Militar, como Atilano, Seabra, José Arthur, Wetter, Célio, Edson, Kelsen... tiveram de ser substituídas por mim, num processo de afirmação e autoaprendizagem que cultivo até hoje.
Achei estranho o Zé Ivo dizer que era bom em Geometria Descritiva porque a estudara no Liceu. No meu caso, quando saí do Anexo da Piedade, nem o nome Geometria Descritiva sabia o que era e, com admirável surpresa, passei a ver o professor Túlio traçar epúras e mais desenho desinfeliz que, quando chegava em casa, eu repetia na lousa verde, com gises coloridos que eu capava do resto das aulas dele, Túlio. Sentia um orgulho danado quando minha mãe entrava no meu quarto e via aquelas projeções do Príncipe Júnior e do Virgilio Athaide, que eram os bons livros que se via na época.
Ah, engenharia civil! Gosto muito de ser engenheiro civil e orgulho danado também, mas se fosse hoje, optaria pela Física, exatamente em caminho contrário ao que fizeram Galdino e Zé Ivo. Vida, a quantos obriga!