Tudo é probabilístico, ou seja, ñ se pode garantir cem por cento, mas parece haver um nexo entre humilhações passadas e o desejo de descontar a afronta no alheio.
Logo depois do massacre do Carandiru, li uma crônica em que o autor defendia que os soldados, ao matarem os presos indefesos na prisão, na realidade assassinavam a si próprios. O outro era ele, a sua vida miserável é o que desejavam inconscientemente eliminar.
A propósito, Euclides da Cunha tem um texto fantástico do período em que esteve na Amazônia demarcando fronteiras com o Perú: Judas Ashaverus. É sobre a Semana Santa nos territórios isolados do Amazonas habitado por cearenses.
O seringueiro neste dia não tem festa, como há nas cidades. Ele faz sozinho um Judas à sua imagem e semelhança, observado pela mulher e filhos. Ao terminar, põe o boneco numa canoa e a faz descer o rio com o Judas. E enquanto a canoa vai descendo rio abaixo, um a um, os seringueiros das margens atiram no Judas como se atirassem em si próprios.
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