sábado, 15 de setembro de 2012

Monarquia e República

Leonardo Mota (1891-1948), o Leota, incomparável escritor cearense, num de seus livros, Sertão Alegre, conta a estória dum matuto incomodado com a convocação feita por um cabo eleitoral:

“- Vocês precisam se alistar! Nós precisamos meter o peito na política! Quem sabe se operários e trabalhadores, reunidos, não endireitam esta anarquizada República de bacharéis e de soldados?”

Saltou de lá um matuto:

“- Qual! Negóco de Gunverno pra mim é mesma coisa que criação de porco... A gente ricói um capado magro no chiqueiro. Bota um jacá de mío, de menhã; bota outro jacá a mei-dia; bota outro jacá à boca da noite: - de menhã, o chão tá limpo... O porco, vai comendo e vai engordando, vai engordando inté não pudê mais de gordo:  - os óio empápuçado, as oreia caída, bochechão estufado... Tá gordo, só qué dormir e roncá. A gente não precisa mais nem botá jacá de mio, basta uma espiguinha: - ele larga. Já comeu muito, tá gordo, tá enfarado... Esse é o imperadô! Mas, República?!... A gente ricói um, antes desse um engordá, sai e entra outro: - não hai mío que chegue!...”

George AA Coelho

Fonte:
Leonardo Mota. Sertão Alegre – Poesia e linguagem do sertão nordestino. ABC Ed. Fortaleza Ltda., 2002, p.77

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