Nos sertões do Nordeste, a rede
atravessada nos dois punhos por um pau, tendo em cada extremidade deste um sujeito que a carregava,
servia de transporte pra tudo. Hora era o senhor que fazia grandes travessias
ali deitado; outra, uma senhora nos trinques; ou um doente aventurando cura em
local menos inóspito; às vezes, um morto; outras, um bêbado etc. Quintino Cunha, dotado de uma
verve extraordinária pro humor, já
aos oito anos, presenciou um desses carregos. “E foi num cromo que registrou a cena que viu na estrada:”
Por um rancho aonde está
Reunida muita gente,
Passa uma rede... e
se sente
Que coisa de novo há.
Um molecote de lá
Do rancho, tomando a frente,
Pergunta curiosamente,
Aos carregantes: -
“Olá!...
Vai morto ou vivo?” -
E o doente,
Que vinha, pela aguardente,
Toldado de cabo a rabo,
Ergue o lençol que o esconde,
Bota a cabeça e responde:
- Vai é bebo com o diabo!...
Fonte:
Renato Sóldon. Verve Cearense. Edição do autor. 1969. Pgs. 24 e 25.
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