domingo, 6 de outubro de 2013

Olá! Vai morto ou vivo? - Quintino Cunha

Nos sertões do Nordeste, a rede atravessada nos dois punhos por um pau, tendo em cada extremidade deste um sujeito que a carregava, servia de transporte pra tudo. Hora era o senhor que fazia grandes travessias ali deitado; outra, uma senhora nos trinques; ou um doente aventurando cura em local menos inóspito; às vezes, um morto; outras, um bêbado etc. Quintino Cunha,  dotado de uma verve extraordinária  pro humor, já aos oito anos, presenciou um desses carregos. “E foi num cromo que registrou a cena que viu na estrada:” 

Por um rancho aonde está
Reunida muita gente,
Passa uma rede...  e se sente
Que coisa de novo há.

Um molecote de lá
Do rancho, tomando a frente,
Pergunta curiosamente,
Aos carregantes:  - “Olá!...

Vai morto ou vivo?” -  E o doente,
Que vinha, pela aguardente,
Toldado de cabo a rabo,

Ergue o lençol que o esconde,
Bota a cabeça e responde:
- Vai é bebo com o diabo!...


Quintino Cunha (Itapajé24/07/1875 - Fortaleza1/06/1943) advogado, escritor e poeta. 


Fonte:
Renato Sóldon. Verve Cearense. Edição do autor. 1969. Pgs. 24 e 25.


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