Corria a Revolução Paulista de 1932 e o governo federal abria inscrições pra voluntários irem ao campo de batalha. O paraibano poeta, Canelinha, danou-se a ser o primeiro a se alistar. E alistou-se foi ligeiro. Corria o caminhão pra frente de batalha e Canelinha, inquieto na carroceria, inesperadamente começou a contar pros soldados os contras do alistamento. E foi dando um desânimo no Canelinha: que não era homem de brigas, não; que tinha sentimento cristão; que não sabia nada de matar; que gostava mesmo era do amor... E foi a viagem inteira desfiando suas contra-razões pra peleja futura. Chegado no desembarque, vendo o astral pra baixo do poeta, um oficial começou a encorajá-lo e tentou de tudo, mas não desanuviou nada dos pensamentos do Canelinha. Era caso perdido. O oficial, no sem jeito mesmo, e sabendo das destrezas poéticas do nosso ex-futuro-herói, disse que, se o Canelinha tivesse de desistir da luta, era obrigado então a relatar em versos o porquê da covardia. Aí o Canelinha abriu-se ligeiro feito bala:
"Não me leve para a guerra;
Não me faça essa surpresa.
Pois não tenho natureza
De ver meu sangue na terra.
Me deixe em cima da serra.
Lá por dentro dos buracos
Pra viver com os macacos;
Embora passando fome:
Depois escreva meu nome
No livro dos homens fracos."
George Alberto
Fonte:
Antologia Ilustrada dos Cantadores. Francisco Linhares e Otávio Batista.
Ed. UFC. 1976 Fortaleza-Ce. p.289.
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