I
O puro, contra o aplicado,
Trava longa e intensa briga,
Desde os tempos do passado,
Da Ática - a Grécia antiga.
Mundo puro de Platão,
Com as formas ideais,
Saído da abstração
Das coisas materiais.
Aristóteles queria
O mundo do sensitivo
Tirado da biologia,
Da matéria mais o vivo.
II
A luta que se seguiu,
Entre Santo Agostinho
E São Tomás de Aquino,
A igreja, sacudiu.
O primeiro, Agostinho:
Crer para compreender.
Segundo Tomás de Aquino:
Compreender para crer.
Idade medieval:
Santo Agostinho e Aquino,
Cada qual o mais ladino,
E a luta sem final.
III
Já na idade moderna,
O embate não se encerra,
Descartes era purista,
E Newton, um liceísta.
Descartes, cartesiano,
Com seu plano abstrato.
Já Newton filosofando:
Força, movimento, estado.
IV
Lá vem Kant a seguir
Batendo contra os dois lados:
O Conhecer há de vir
Do que é experimentado.
Mas também, por outro lado,
Pra experiência surgir,
Antes foi originado,
Algo tem que pré-existir.
V
No mundo contemporâneo,
Hegel dá um passo além,
Nas idéias do seu crânio
Os dois lados tão de bem.
Há relação dialética
Entre o puro e o aplicado,
O conhecer segue a métrica
Num crescendo espiralado.
O conhecer vem do puro:
O corrige, o aplicado.
E o que antes era escuro,
Vai ficando clareado.
VI
Karl Marx inverte os lados
Do molde hegeliano:
Primeiro vem o aplicado,
Puro é segundo plano.
Em termos de Economia,
A ordem é distribuição,
Depois vem a produção,
Consumo da mercadoria.
Pra cobrarmos igualmente
A produção entre os homens,
Sem que haja uns com fome,
Distribuir, é a semente.
Mas se quisermos carentes,
Convivendo com abastados,
Crie-se classes, tão somente,
Pra mantê-los separados.
VII
Segregar educadores
Em grupos conveniados:
Professores, Pesquisadores,
Estes: Puros ou Aplicados.
George Alberto de Aguiar Coelho
Escrito em 15/03/2007
Fonte: O escrito do Prof. Davis abaixo
>
O Puro e o Aplicado
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Na Grécia Clássica, o debate "puro versus aplicado" se deu entre o
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divino Platão e o gênio Aristóteles. Se Platão, por ser Geômetra, defendia a
>
existência de um Mundo Puro - de formas perfeitas; Arí, por ser biólogo,
>
defendia um Mundo sensível. Para Platão, a pureza; para Arí, a matéria.
>
>
Na Idade Média, tal embate se deu entre Sto Agostinho e Sto Tomás de
>
Aquino: se Agostinho pregava o "é preciso crer [em Deus], para
compreender",
>
seu antagonista, Aquino, afirmava (tempos depois) o "é preciso compreender
>
[Deus], para [Nele] crer". E, assim, durante a "noite de mil
anos", o puro e
>
o aplicado não se entenderam.
>
>
Haveria, pois, com a Idade Moderna, a possibilidade desse encontro
>
após tantos desencontros? Ainda não! Se do lado "purista", aparecia
>
Descartes e seu plano Cartesiano abstrato; por outro lado tínhamos Newton
>
(frequentador do Liceu), tentando explicar o mundo através da força e dos
>
movimentos.
>
>
Ao fim da modernidade, entra em cena o virgem Immanuel Kant,
>
criticando ambas as posturas - purista e aplicada. Kant critica os puristas,
>
afirmando que não podemos ser totalmente puros, pois o conhecimento começa
>
com a experiência, e, critica também os "aplicadores", ao afirmar que
o
>
conhecimento tem uma origem a priori (algo nos leva a ele) antes da
>
experiência sensível.
>
>
Exemplificando grosseiramente, alguém aprende a tocar violão quando
>
começa a dedilhar e brincar com o instrumento, porém a origem veio antes -
>
algo o levou para o violão em vez de levá-lo para um piano, uma flauta ou
>
para um triângulo (para Kant, começo é diferente de origem).
>
>
Mas, no mundo contemporâneo, Hegel, dá um passo além de Kant e afirma
>
que há uma relação dialética entre o Puro e Aplicado - os dois recebem e
>
geram influências um ao outro. A questão é "de onde se parte". Para
Hegel, o
>
conhecimento nasce do Puro, que recebe influências do Mundo Material e
>
confirma ou reformula sua "pureza".
>
>
Marx aproveita a concepção dialética de Hegel, porém, inverte-a "de
>
cabeça para baixo". Ou seja, afirma que existe uma relação dialética entre
>
o Puro e Aplicado - só que partindo do aplicado. Para Marx, o conhecimento
>
nasce das aplicações já existentes, e só depois recebe interpretações
>
puristas, que tentam explicar esse Mundo real.
>
>
Exemplificando grosseiramente (novamente), uma concepção "Pura"
>
acredita que a Economia se dá assim: (i) produzimos mercadorias, (ii) essas
>
mercadorias são distribuídas, e depois, no fim da cadeia, (iii) ocorre o
>
consumo. Numa concepção Aplicada, a cadeia Pura se inverte, tal qual a
>
teoria de Marx inverte a teoria de Hegel: (i) primeiro nascemos em um mundo
>
onde as mercadorias já estão distribuídas, depois, (ii) para conseguirmos
>
produzir, há a necessidade de consumirmos muito - (iii) até o dia em que
>
estivermos prontos para produzir. Ou seja, a sequência correta seria:
>
Distribuição-Consumo- Produção, e não Produção-Distribuição-Consumo.
>
>
Para cobrarmos o mesmo nível de produção entre os homens, eles
>
precisam ter o mesmo poder de consumo - e para terem o mesmo poder de
>
consumo, precisamos distribuir a riqueza por "igual" - desde a
origem. Mas,
>
se NÃO quisermos distribuir a riqueza por igual, podemos separar os homens
>
em classes. Em uma Escola, por exemplo, podemos separar os Educadores em
>
duas classes, a saber: Professores e Pesquisadores - e, estes últimos em
>
Puros e Aplicados.
>
>>
Davis Macêdo Vasconcelos, Prof. Classe Especial do CEFET-Ce.