A apresentação inaugural da Copa do Mundo de ontem no Itaquerão achei curta e superficial, sem bem mostrar as diversidades do Brasil. Bom que pareceu-me baseada, sua estrutura em partes, no fabuloso livro Os Sertões de Euclides da Cunha. Pra aqueles que nunca leram e pensam que conhecem o Brasil, e falam como se fossem a própria nação brasileira, deveriam lê-lo porque O livro faz parte de nossa autêntica nacionalidade.
Os Sertões foi dividido por Euclides em três partes: 1. A Terra; 2. O Homem; 3. A Luta. Em cada partição, o escritor faz um estudo vertical do tema. Na primeira, Euclides descreve profundamente o meio onde se dá a epopéia: a Caatinga. Na segunda parte, fala do homem, habitante da terra adusta dos sertões nordestinos, o qual viria a ser protagonista da maior epopeia brasileira, a Guerra de Canudos. "O sertanejo é antes de tudo um forte..." Por fim, Euclides, narra a grande luta em que o sertanejo, armado de foices, facões e armas tomadas aos soldados de expedições militares anteriores, - foram quatro ao todo - empreendeu até o fim: "Fechemos esse livro. Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados..."
Os Sertões foi dividido por Euclides em três partes: 1. A Terra; 2. O Homem; 3. A Luta. Em cada partição, o escritor faz um estudo vertical do tema. Na primeira, Euclides descreve profundamente o meio onde se dá a epopéia: a Caatinga. Na segunda parte, fala do homem, habitante da terra adusta dos sertões nordestinos, o qual viria a ser protagonista da maior epopeia brasileira, a Guerra de Canudos. "O sertanejo é antes de tudo um forte..." Por fim, Euclides, narra a grande luta em que o sertanejo, armado de foices, facões e armas tomadas aos soldados de expedições militares anteriores, - foram quatro ao todo - empreendeu até o fim: "Fechemos esse livro. Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados..."
Pois bem, mas o que foi a apresentação inaugural da Copa do Mundo? Seiscentos componentes elaboraram um desfile bonito, planejado por umas belgas, que se dividiu nas mesmas, ou semelhantes, três partes de Euclides. Na primeira, procurou-se mostrar a diversidade da flora brasileira. Contudo, fixou-se apenas nas araucárias paranaenses. Não vi floresta amazônica; não vi o bioma Caatinga ali, este justamente o habitat do símbolo da Copa do Mundo no Brasil, o tatu-bola Fuleco. Na segunda parte, tentou-se mostrar o homem brasileiro, e seus cantos e ritmos. Vi berimbau, samba de roda, frevo, danças gaúchas, axé, mas não vi o forró, o tocador de sanfona, pífano, do triângulo e da zabumba, justamente a parte sertaneja de nossos ritmos. Por terceiro, a luta, evidentemente nesta parte não tenho críticas a fazer porque a luta do futebol é simbolizada pela bola e sua interação com o jogador.
Coisa feia foram os apupos de uns poucos e palavras de baixo calão à Presidente da República pelos que pensam conhecerem o Brasil e agem como mal-educados, grosseiros e prepotentes donos da verdade. Como se o Brasil fossem eles próprios, eles detentores de uma raça que acham ser superior às outras, à toda a biodiversidade de raças que nos compõe; detratores de uma mulher que lutou dignamente, torturada que foi por acreditar em seus ideais. Lembro-os novamente o fluminense escritor Euclides da Cunha. Euclides, sem ainda conhecer o Brasil, foi encaminhado por jornal pra fazer a reportagem maior da Guerra de Canudos no Nordeste. Chegando à realidade do sertão, cheio de preconceitos, curvou-se respeitosamente ao aprendizado da dura vida que viu. E então mudou em si conceitos sociológicos que até então os tinha. Em poucas palavras no livro, o escritor diz o que é e vai ser do brasileiro:
"Não temos unidade de raça. Não a teremos, talvez, nunca. Predestinamo-nos à formação de uma raça histórica em futuro remoto, se o permitir dilatado tempo de vida nacional autônoma. Invertemos, sob este aspecto, a ordem natural dos fatos. A nossa evolução biológica reclama a garantia da evolução social. Estamos condenados à civilização. Ou progredimos, ou desparecemos. A afirmativa é segura. Não a sugere apenas essa heterogeneidade de elementos ancestrais. Reforça-a outro elemento igualmente ponderável: um meio físico amplíssimo e variável, completado por valor de situações históricas, que dele em grande parte decorreram..."
As belgas do desfile provavelmente não leram Os Sertões.
As belgas do desfile provavelmente não leram Os Sertões.
George Alberto de Aguiar Coelho
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